Começa o II Seminário Nacional de Educação em Agroecologia debatendo resistências e perspectivas de luta no campo do conhecimento

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Auditório da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) lotado para a abertura do SNEA. Foto André Biazotti/Comunicação SNEA.

Ao som de músicas de protesto e uma apresentação teatral da juventude, o II Seminário Nacional de Educação em Agroecologia: Resistências e Lutas pela Democracia iniciou nesta manhã (25) no auditório da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O evento promoverá debates e reflexões com base em experiências agroecológicas espalhadas por todo o país. Cerca de 300 participantes, dentre estudantes, educadores, agricultores e movimentos sociais, acompanharam a cerimônia de abertura.

Preocupada com um cenário de “nebulosidade temerosa”, a reitora da UFFRJ, Ana Maria Soares, destacou a importância de atividades nas universidades em defesa das liberdades democráticas e de expressão. Em sua opinião, a energia da juventude tem um papel fundamental na luta contra as ameaças em curso no país, sobretudo no direito deles a um ensino público gratuito de qualidade.

“Nos últimos meses tenho tido um reavivamento de anos que pensava não voltar mais, como na ditadura militar. Tem acontecido em diversos institutos federais e escolas muitas interferências do Ministério Público nas comunidades acadêmicas. Isso é inadmissível, a educação que representa a soberania do país está ameaçada pela PEC que coloca em risco todas as conquistas da população e dos movimentos ao longo de anos. Interfere diretamente no pensamento crítico dos jovens, nos elementos que ajudam ao ser humano pensar. Daí a importância desse evento”, afirmou.

Ao relembrar a trajetória da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Paulo Petersen, integrante do núcleo executivo da entidade, destacou o sentido da agroecologia na perspectiva de resistência territorial na luta pela democracia e expansão das liberdades. Nesse sentido, desde 2003 a ANA vem integrando setores em todo o Brasil que possuem a mesma visão e prática agroecológica. Dois anos após nasceu a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) com pesquisadores, educadores, estudantes, dentre outros setores, que entendem a educação de outra forma dialogando com essas práticas, complementou.

“Somos muito diversos, mas temos a mesma forma de nos relacionar com a natureza e superar as desigualdades com o protagonismo das mulheres, o plantio das sementes crioulas, toda uma prática identificada por uma ciência. Estamos num novo momento de resistência, e com essas organizações conseguimos muitas conquistas nos últimos 15 anos: os Núcleos, por exemplo, embora com pouco recurso fizeram muito, inclusive eventos como esse. Isso que está em jogo, precisamos manter nossa capacidade de seguirmos juntos aos movimentos articulados nas regiões, nacionalmente e para fora do Brasil. Fazer a luta pela democracia e o empoderamento na base”, disse Petersen.

Segundo Gereissati Rodrigues, da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), eventos do porte do SNEA são extremamente importantes para o fortalecimento da agroecologia. “Existem muitas circunstâncias que fazem com que a agroecologia ganhe menos visibilidade do que merece. É uma pauta muito importante e necessária, daí a necessidade de eventos como esse de troca de experiências para dar consequência a esse movimento. As pessoas precisam ter noção da dimensão que a agroecologia possui”, concluiu.

Também valorizando a identidade e as experiências agroecológicas territoriais, a Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), que atua há dez anos no estado, traz vários exemplos de resistência regional. De acordo com Claudemar Mattos, da coordenação do movimento, são vários exemplos de luta vinculados à agricultura em todo o território fluminense. A AARJ realizará o IV Encontro Estadual de Agroecologia em março de 2017.

“No norte do Estado várias resistências por suas terras, já na Costa verde, quilombolas e caiçaras resistindo à especulação imobiliária e na região serrana pequenos agricultores contra a utilização de agroquímicos, dentre outras experiências. A invisibilização da agricultura e seus atores nos remete a afirmar que a nossa cidade tem agricultura. Nossa caminhada representa nossa necessidade de se colocar e somar à luta pelos nossos direitos conquistados”, ressaltou.

Para finalizar a mesa de abertura, a presidente da ABA, Irene Cardoso, lembrou que apesar da conjuntura desfavorável é preciso não ter medo e lutar de cabeça erguida pelas conquistas. Ela lembrou o edital do CNPq, que viabilizou os Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAS) em todo o país, e a necessidade de lutar para renová-los e dar continuidade às sistematizações de experiências. Cardoso também anunciou o 10º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) previsto para 2017, em Brasília, com a temática Construção do bem viver.

“É o momento de parar e refletir sobre nossas ações, buscar forças para continuar nossa caminhada. Se encorajar para resistirmos e fazermos as transformações necessárias. Precisamos preservar e fortalecer nossas conquistas, como a REGA (Rede de Grupos de Agroecologia) com um grande trabalho. Estão buscando descontruir o ensino, pesquisa e extensão, as construções de conhecimento horizontal”, alertou.

No II SNEA estão sendo construídos os princípios da agroecologia, foram mais de 170 resumos inscritos. A ABA vem realizando essas sistematizações, que trazem as lições que precisamos aprender com as nossas práticas, acrescentou a professora. “Vamos elaborar uma carta política sintetizando as discussões como instrumento de resistência e luta. Nesse momento de tanta temeridade precisamos também fortalecer a solidariedade, cooperação e sinergia. Reconhecer e conhecer o que temos feito para fortalecer nossas organizações”, concluiu.

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