Encontro Nacional dos Núcleos de Agroecologia – diversidade, potência e afeto

Reunidos em Brasília, NEAs de todo o país fortalecem suas ações em rede e planejam os próximos passos articulando ensino, pesquisa e extensão – dentro e fora de suas instituições

 

Momento de culminância da intensa trajetória do Projeto de Sistematização de Experiências, construído e semeado a muitas mãos, vindas de todas as regiões do país. Este foi o sentimento presente nos sorrisos, abraços e na profunda troca de saberes durante todo I Encontro Nacional dos Núcleos de Agroecologia.

Realizado entre os dias 8 a 11 de setembro, no Centro de Formação do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, em Luziânia/GO, o Encontro teve como desafios compreender as ações dos Núcleos em seus territórios, avaliar coletivamente o acesso e o ampliamento das políticas públicas e como a agroecologia é construída no ensino, pesquisa e extensão, ou seja, na transformação da vida das pessoas e comunidades.

Os Núcleos de Agroecologia se reuniram nacionalmente para refletirem sobre suas práticas e puderam olhar de forma coletiva a atuação da extensa e diversa rede tecida por pesquisadoras/es, educadoras/es, agricultoras/es, estudantes e parceiros imersos em diferentes territórios. Durante esses quatro dias partilhamos saberes e experiências vivenciadas, abrindo caminhos para a criatividade e inovação na construção da agroecologia nas dimensões da ciência, prática e movimento.

 

Os nós da nossa rede se fortalecem

O Encontro Nacional dos NEAs mostrou que esta potente rede já é tecida há muito tempo, onde a pluralidade de sujeitos é fundamental para a construção do conhecimento agroecológico. Essa diversidade cultural traduzida nos sotaques, nos saberes, tradições – da literatura de cordel à mística da manhã – o embelezar dos espaços, que ganham vida e cor, como um bordado feito a diferentes mãos com elementos de todos os territórios.

Cultura é agroecologia! Raízes que crescem sustentadas no solo fértil das manifestações e festas populares, que trazem nas músicas muito do fazer que pulsa em cada comunidade e território. Momentos de celebração e colheita do trabalho desenvolvido.

O reconhecimento da cultura popular é fonte para o diálogo entre diferentes saberes, de onde tiramos aprendizados para garantir nossa resiliência. Esse diálogo, animado pelas metodologias participativas apoiadas nas experiências da educação e comunicação popular, foi um princípio fundamental em toda a trajetória do Projeto de Sistematização de Experiências, iniciativa nacional animada pela ABA-Agroecologia nos últimos 24 meses, com apoio do CNPq e da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead).

As colheitas do projeto, as lições aprendidas, nos indicam caminhos a seguir frente a uma complicada conjuntura política, de cortes e mudanças. Em nossa trajetória conjunta aprendemos que a resistência é o que move os Núcleos de Agroecologia, o que faz fluir as suas ações, convergindo em um grande rio, que corre certo de seu propósito: a vida.

 

Celebrar as ações, refletir sobre o que vivemos e construir nossa caminhada

Mais de 170 pessoas de 58 Núcleos de Agroecologia e 26 organizações parceiras. Mulheres, homens,  jovens, pessoas do campo e da cidade, de instituições de ensino, pesquisa e extensão, sociedade civil, governo, de todos os cantos do país.

O encontro foi uma oportunidade para socializar experiências, dialogar sobre nossas dificuldades e êxitos, trazer os anúncios e denúncias para o avanço da agroecologia. Também pudemos  pensar em como construir estratégias de ensino, pesquisa e extensão dentro dos territórios,  fundamentadas no diálogo de saberes, aproximando o saber científico do tradicional. “Os NEAs têm que sair de dentro da universidade e buscar as comunidades, as escolas, assistir o nosso povo. Se não fosse o NEA, não estaria participando de um encontro desse de Agroecologia”, compartilha Maria da Silva Soares, agricultora de Careiro da Várzea (AM).

No processo de sistematização falamos a partir do local onde os pés pisam e das experiências vivenciadas – individual e coletivamente. Garantir a diversidade de participantes, pessoas vindas de todas as regiões e cantos do país é cuidar da presença de diferentes visões, da diversidade em que a agroecologia se constrói.

 

Agroecologia é encontro – de pessoas, saberes, territórios

Nessa caminhada adaptamos alguns métodos, os modos de fazer do processo, para que o fazer estivesse mais próximo da nossa realidade. A Linha do Tempo, proposta por Paulo Freire, virou rio, pois nos ensinaram que a vida não é uma linha reta – tem corredeiras e calmarias, quedas e meandros –  mudança de curso,  matas ciliares, toda uma complexidade ao seu redor. Água é fluida, doce e salgada, feita de chuva e lágrimas,  que  tornam o rio da vida mais forte e caudaloso. Nascentes, memórias da terra que brotam água, arrebentam pedreiras, fazem cachoeiras, experiências vividas  de todo o árduo e gratificante trabalho, lágrimas da resistência dos NEAs e de quem os integra.

E nesse encontro de Rios do Tempo dos NEAs, ganhamos força e profundidade para navegar, pudemos enxergar os anúncios e as denúncias para o avanço da agroecologia nos diferentes territórios brasileiros. Afirmamos que os NEAs são como encontro de Rios – a cada pedra no caminho ganham mais força para navegar – nossa trajetória é longa e mostra que somos um só rio.

Os elementos trazidos pelas regiões formam um grande e colorido mosaico através da montagem das Instalações Artístico Pedagógicas que, de acordo com Irene Cardoso, coordenadora do projeto de sistematização e presidente da ABA, são uma forma dinâmica e interativa de socializar experiências, espaços que exploram diferentes expressões, onde as pessoas podem caminhar entre os ambientes criados de acordo com um tema que desejamos discutir.  Um ponto de culminância, de encontro.

A Instalação Artístico Pedagógica dos NEAs seguiu em cortejo para o X Congresso Brasileiro de Agroecologia, que aconteceu logo após ao Encontro Nacional do NEAs, em Brasília. Se fez presente em um importante espaço de construção do conhecimento agroecológico.

Raimundo Rego, agricultor e membro do Núcleo de Agroecologia do Cajuí (PI), nos diz que “todo agroecologista deve estar em comunicação, em sintonia com a terra, com todo o seu conjunto, inclusive com o conjunto devolutivo, com as pessoas, em toda a sua totalidade. Na igualdade de gênero, na liberdade sexual, na economia solidária, na cultura e na espiritualidade. No sentido do amor, do cuidar, de fazer um pacto com o universo e zelar por ele de verdade.”

Se apossar do presente, com os pés no futuro que ainda não chegou, deixando registrados os caminhos por onde passamos. Nessa ação coletiva latente, seguimos na construção da agroecologia, fazendo avançar seus anúncios, resistindo frente aos conflitos, articulados com o povo, que com o pé em seus territórios, nos ensina que é com a diversidade de saberes e ações que construiremos o novo.

 

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Texto: Luiza Damigo e Patrícia Tavares