Construção do Conhecimento Agroecológico

GT Construção do Conhecimento Agroecológico

A agroecologia é aqui concebida como ciência, prática e movimento. Enquanto ciência, a discussão epistemológica carece de aprofundamento, mas é consenso que o diálogo de saberes e a produção de conhecimento em coletivos e grupos é um traço marcante.

Chamamos atenção, entretanto, que na prática este diálogo representa grande desafio ao pressupor horizontalidade, considerando que a ciência moderna foi a cada dia conquistando o imaginário da maior parte das culturas globalizadas como a forma de conhecimento mais correta e segura. Sem a desconstrução desse imaginário não é possível construir conhecimentos a partir da ecologia de saberes, que pressupõe a quebra de hierarquias e o diálogo intercultural entre os diversos conhecimentos envolvidos, e as necessárias contextualizações de cada um.

Em termos epistemológicos, entendemos que a ciência da agroecologia aponta para o desenvolvimento de um novo paradigma, que privilegia a construção de conhecimentos contextualizados (no sentido de Hugh Lacey, 2019¹), o que requer não só metodologias, como também posturas diferenciadas das pesquisadoras e pesquisadores, compartilhando conhecimentos e colocando-se contrários ao “epistemicídio global” (SANTOS, 2010, p. 8²) e ao racismo institucional, para a transformação dos espaços acadêmicos.

Sob este viés, o GT busca ampliar o debate sobre as diferentes abordagens (teórico-metodológicas e políticas) da construção do conhecimento agroecológico contextualizado, em um processo de discussão, análise e apresentação de experiências, marcos conceituais e metodológicos que privilegiem o diálogo e a ecologia de saberes, assim como o diálogo entre as dimensões teóricas da construção do conhecimento agroecológico e as dimensões empíricas.

Mas é preciso ir além e este Grupo de Trabalho pretende avançar na teorização sobre a construção epistemológica da Agroecologia enquanto ciência, considerando permanentemente que esta ciência está interconectada com as práticas, os conhecimentos e filosofias de diversos povos, populações tradicionais, setores e grupos da sociedade, e com os movimentos sociais que reivindicam a Agroecologia como bandeira de luta e a percebem como jeito de ser, viver, produzir.

Falamos portanto de uma ciência interdisciplinar e transdisciplinar que deve ser pensada a partir da complexidade, com olhar holístico, que visa compreender para além das particularidades,  interações e  processos, considerando diferentes cosmovisões,  sujeitos, territórios e territorialidades.

¹ LACEY, H,. Agroecologia como ciência e diálogos interepistêmicos, In: WORKSHOP PERSPECTIVAS DO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM AGROECOLOGIA NO BRASIL, 2019, Brasília. Vídeo… ABA Agroecologia, 2019. Disponível em: <https://youtu.be/Ixy6Ihd1RI8>. Acesso em: 25 mar. 2019.

² SANTOS, B. de S. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 3a ed. São Paulo: Cortez, 2010.

Coordenação:

Lívia Mara de Oliveira Lara – liviamlara@yahoo.com.br
Joana de Oliveira Dias – joana.dias@ifac.edu.br
Mônica Cox de Britto Pereira – monicacoxbp@gmail.com
Nina Paula Laranjeira – nina.laranjeira@yahoo.com.br