Primeiro Doutorado Profissional em Agroecologia do país é aprovado

A proposta interdisciplinar do programa fortalece a construção do conhecimento

Foto: Sertão Agroecológico

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), no semiárido brasileiro, através de uma parceria interinstitucional, fez uma proposta inovadora – o primeiro programa de doutorado profissional em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial do país. Em uma coordenação descentralizada, a sede do programa será na UNIVASF mas haverão turmas em outras duas instituições de ensino superior, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Existem hoje no Brasil sete programas de Mestrado em Agroecologia e um Doutorado Acadêmico, na Universidade Estadual do Maranhão. Agora, com este, são dois.

A proposta foi aprovada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) no último dia 6 de dezembro e os editais de seleção da primeira turma serão para ingresso em 2019.

Entrevistamos o Coordenador do Núcleo de Estudos em Agroecologia Sertão Agroecológico e professor da UNIVASF Helder Ribeiro Freitas, que nos contou sobre o processo de construção do programa e a importância da articulação dos NEAs junto aos movimentos sociais.

ABA – O que significa ofertar o primeiro doutorado profissional do Brasil em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial para a UNIVASF e qual sua contribuição na construção do conhecimento agroecológico?

Helder – Significa uma grande conquista para a Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF que até este ano não tinha nenhum doutorado e, além do Doutorado Profissional em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial, também aprovou mais outras 3 propostas de Doutorado na Modalidade Acadêmico. Neste contexto, as iniciativas de pesquisa em interface com a extensão conduzidas pelos diversos Núcleos de Agroecologia e Grupos de Pesquisa da UNIVASF e instituições parceiras junto às comunidades, grupos e iniciativas de Transição Agroecológica ganham uma estrutura acadêmica que irá promover as investigações e buscar respostas às demandas socioprodutivas dos Territórios do Semiárido Brasileiro.

ABA – Porque a escolha de um doutorado profissional interdisciplinar?

Helder – O Doutorado na área de Agroecologia e na Modalidade Profissional possibilitará a aproximação da academia aos processos e iniciativas do campo agroecológico em curso junto às organizações, movimentos sociais e instituições que tem construído o desenvolvimento local sustentável no Semiárido, no Brasil e no mundo. Os Programas de Pós-graduação Profissionais (Mestrado e Doutorado) realizam estudos integrados com a prática de profissionais de diferentes áreas do conhecimento e tem como propósito realizar pesquisas e intervenções em diferentes demandas sociotécnicas. Neste sentido, a submissão da proposta de Doutorado em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial para a área Interdisciplinar da CAPES se dá no sentido de superar as limitações das áreas tradicionais nas quais a Agroecologia tem se inserido, como é o caso da área disciplinar das Ciências Agrárias. Assim, no campo interdisciplinar é possível investigar problemas dos campos socioprodutivos permeado pelas nuanças das interações entre as diferentes ciências e áreas disciplinares que a Agroecologia demanda em suas propostas de pesquisa e desenvolvimento.

Foto: Sertão Agroecológico/Júlia Mariah

ABA – O programa de doutorado foi construído em parceria com outras instituições de ensino superior e diversos movimentos sociais e organizações. Quais foram elas e porque sua articulação é importante?

Helder – Esta proposta foi apresentada pela UNIVASF na modalidade Associação de modo que as instituições polo envolvidas na associação foram a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Além destas duas instituições também entraram como parceiros apoiadores/colaboradores da proposta a EMBRAPA Semiárido e o Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSertão-PE). Assim, a UNIVASF se constitui na sede do Doutorado mas também haverão turmas na URFPE e na UNEB. Os movimentos sociais e organizações da sociedade civil apoiaram a proposta do doutorado na medida em que este curso poderá ser desenvolvido em articulação com as iniciativas e desafios à transição agroecológica vivenciados pelas comunidades, organizações e movimentos sociais do campo.

ABA – De que forma os Núcleos de Estudo em Agroecologia participaram desse processo? As políticas públicas de apoio a agroecologia são importantes nesse sentido?

Helder – Na realidade os Núcleos de Estudos em Agroecologia – NEAs e Centros Vocacionais Tecnológicos – CVTs foram determinantes para a construção e apresentação da proposta junto à CAPES. No âmbito da articulação de cada uma das instituições e organizações envolvidas ou apoiadoras da proposta está um NEA ou CVT que atua junto a comunidades, organizações e movimentos sociais do campo e da Agroecologia em suas diferentes perspectivas. Assim, um momento determinante para articulação e construção desta proposta foi o evento construído pela “Rede Territorial de Agroecologia do Sertão do São Francisco Baiano e Pernambucano” em parceria com a ABA-Nordeste e da Superintendência de Educação Profissional Tecnológica da Bahia – SUPROT. O referido evento foi denominado de Primeiro Encontro de Cursos e Iniciativas de Ensino em Agroecologia do Nordestes e Oficina para Construção de Plataforma Colaborativa de Pesquisa/Experimentação e Pós-Graduação em Agroecologia do Nordeste realizado em maio de 2017 em Juazeiro – BA e contou com 250 participantes de representações de quase todos os estados do Nordestes nas experiências de Ensino em Agroecologia nos diferentes níveis (Médio, Graduação e Pós-graduação). A partir deste evento um grupo de instituições e organizações interessadas em construir uma proposta de Pós-graduação no Nordeste passou a se reunir e construir a proposta. Neste momento foi determinante a participação dos CVT/NEA Sertão Agroecológico-UNIVASF sob minha coordenação, o NEA – Núcleo de Agroecologia e Campesinato – UFRPE sob a coordenação do Prof. Jorge Matos, o NEA – CAERDS da UNEB sob a coordenação do Prof. Jairton Fraga, além de um grupo de professores do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural destacadamente Profª. Márcia Bento (Coordenadora da Submissão da Proposta) e a Profª. Lúcia Marisy (Pró-Reitora de Extensão e NEA Espaço Plural – UNIVASF/Juazeiro). Também colaboraram nestas discussões pesquisadores o NEA Semiárido da EMBRAPA Semiárido e professores do CVT Agroecologia do IFSERTÃO – PE.

Desta forma, constata-se que a Política Nacional de Agroecologia foi determinante para a construção da proposta do Doutorado na medida em que esta incentivou a constituição de NEA’s/CVT’s como iniciativas de Ensino, Pesquisa e Extensão nas Universidades, Institutos Federais e Organizações de Pesquisa. Com o Doutorado tais iniciativas terão mais apoio e estrutura para consolidar seus trabalhos e pesquisa no campo Agroecológico no Brasil.

15 comentários

  1. Em tempo e muitíssimo bem vindo a oferta do Doutorado. Importante porém fortalecermos e ‘melhorar’ sempre a qualidade dos Mestrados, pois hà muito o que ‘amadurecer’.

    Sou mestrando em Agroecologia no Ifes-Campus de Alegre, na Serra do Caparaó Capixaba, e após ingresso de 3 turmas, ( 3 anos), tem início uma tímida, porém real contribuicão do programa na mudança na postura do próprio Campus, chegando tb a alguns agricultores familiares.O. programa precisa ser mais plural no sentido de acolher candidatos por exemplo ‘das humanas’, mas hà muito o que comemorarmos por aqui…

    Parabéns e gratidão a todos e todas q se envolveram e somaram para a implantaçao do Doutorado….

    Ahoo Agroecologia!

    Hà braços Caparaoenses!!

  2. Tenho interesse no assunto. Qdo estiver inscrição aberta para o Mestrado, por favor , avise-me. Parabéns as idealizadores. Sucesso a todos!

    • Cara Gabriela, a previsão é que o edital seja publicado até o início de maio. Acompanhe pelo site do programa, todas as novidades serão divulgadas por lá! 🙂

  3. Ola! Gostaria de saber se o Doutorado pode ser realizado via Online! Eu sou advogado no Uruguai e fiquei muito interesado! Obrigado aguardo a sua resposata.

  4. Parabéns pela iniciativa, porém penso que seria oportuno na próxima seleção, pensarem em aceitar candidatos que tenham pelo menos especialização, pois existem pessoas que mesmo sem terem mestrado têm muitas experiências como extensionistas e que poderão contribuir para a construção do conhecimento científico.

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