AO IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Nós da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-agroecologia) manifestamos nossa preocupação em relação à retirada do questionário do Censo Agrícola (CA) ou Censo Agropecuário (CA), por motivos orçamentários, de quesitos relacionados à agricultura familiar.
A sociedade brasileira (e internacional) reconhecem o papel fundamental do IBGE na construção de indicadores e dados estatísticos que subsidiam a formulação e/ou reformulação de políticas públicas. A exclusão de questões consideradas essenciais para a agricultura familiar coloca em risco importantes ações e estratégias voltadas a este segmento social que, no censo agropecuário de 2006, teve seu protagonismo na economia e soberania nacional reconhecido. Este protagonismo cresceu nos últimos anos a partir de diversas ações que visaram a melhor qualidade de vida para a população do campo, com importantes reflexos para a população urbana, já que a agricultura familiar é responsável por mais de 70% da alimentação do brasileiro. Muitos destes alimentos são produzidos a partir dos princípios da Agroecologia, que também recebeu importantes aportes de políticas públicas nos últimos anos.
Por isto questões importantes não podem ficar de fora do formulário censitário do IBGE, como àquelas referentes a diversidade dos modelos produtivos e dos modelos alternativos de produção, cujas respostas trazem consigo valores sociais, ambientais e culturais; àquelas relacionadas ao uso de adubos químicos e agrotóxicos, especialmente importantes para indicar a produção de alimentos saudáveis e
impactos na saúde ambiental e das pessoas. Ainda, não podem ficar de fora questões que oportunizam a auto identificação étnico-racial que por sua vez caracterizam melhor a população rural, evidenciando grupos populacionais que historicamente são marginalizados e; questões relacionadas à força de trabalho que visibilizariam as relações de gênero e de geração na unidade de produção, ao não atribuir apenas a “um responsável” todo o investimento de tempo e força de trabalho na unidade de produção.
Por estas razões, enviamos de forma respeitosa, mas veemente, nossa solicitação de que o IBGE dialogue com a comunidade científica e com os movimentos sociais que representam a agricultura familiar e não suprima os quesitos relacionados à agricultura familiar, a sustentabilidade ambiental, a visibilidade dos trabalhos das mulheres e juventude e aqueles quesitos que tem permitido o reconhecimento, na América Latina, do nosso país como protagonista na produção de alimentos saudáveis e adequados para toda a população brasileira. Os cortes no orçamento (o que é fato) não justificam a supressão de tais quesitos. A permanência da decisão de suprimir tais quesitos ocasionará graves retrocessos políticos e sociais para a sociedade brasileira e por isto, conclamamos, que seja revista.
Abril, 2017
Associação Brasileira de Agroecologia