Núcleos de Agroecologia presentes na Luta pelo Rio Doce!

NEAs participam da construção da Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce realizada entre 11 a 16 de abril em Minas Gerais e no Espírito Santo
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Caravaneiros da Rota 3 visitam o Acampamento Cachoeira da Fumaça/Foto: Arquivo da Caravana

Da nascente à foz, a Bacia do Rio Doce recebeu a Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce. Cerca de 150 pessoas percorreram as quatro rotas da Caravana, e calcula-se um total de aproximadamente 1000 pessoas envolvidas direta e indiretamente nos diferentes locais por onde a Caravana circulou e realizou atividades. Estas mulheres e homens percorreram as margens do Rio Doce, impactado pelo maior crime-tragédia da mineração brasileira: o rompimento da barragem de rejeito de mineração da Samarco (BhP/Vale), no Distrito de Bento Rodrigues em Mariana (MG), em novembro de 2015. Na bagagem dessa Caravana, as injustiças e as histórias de resistência que entrelaçam povos e comunidades ao longo dos mais de 600 km do Rio.

Essa foi a primeira experiência de Caravana vinculada diretamente à um impacto socioambiental dessa magnitude. Organizada por mais de 40 organizações da sociedade civil, dentre elas a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a Articulação Mineira de Agroecologia (AMA), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), os Movimentos Sociais (MAB, MST, MPA, MAM) entre outras organizações locais.

Além dessas organizações, as universidades (como a UFV, UFJF-GV, UFES), com destaque para os Núcleos de Agroecologia (NEAs), atuantes nos territórios por onde as quatro rotas passaram, estiveram presentes. Registar e refletir conjuntamente sobre mais essa experiência dos NEAs é uma das estratégias do Projeto de Sistematização realizado pela UFV em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.

Núcleo de Agroecologia de Governador Valadares – NAGÔ e a rota do médio Rio Doce

Ao longo das mais de cinco reuniões gerais de preparação e na organização de toda a acolhida da Caravana, o Núcleo de Agroecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Governador Valadares, o NAGÔ, e o Centro Agroecológico Tamanduá (CAT) contribuíram ativamente com os debates sobre a agroecologia e a luta dos povos e comunidades da Bacia do Rio Doce.

Apoiado pela Chamada Nº 81/2013 -MCTI/MAPA/MDA/MEC/MPA/CNPq, o NAGÔ realiza o projeto “Da diversidade cultural à diversidade produtiva: construindo saberes necessários à transição agroecológica”, conta com a participação de mais sete professores dos campi de Juiz de Fora e Governador Valadares, e com a coordenação do pró-reitor de Extensão, Leonardo Carneiro. O diálogo de saberes entre a Universidade e as comunidades rurais é um dos principais objetivos do projeto que realiza oficinas, debates e outras atividades de formação em várias comunidades e assentamentos da região.

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Cachoeira Escura – Belo Oriente (MG)/Foto: Florisvaldo Junior

Na luta pelo Rio Doce, o NAGÔ realizou, logo após a tragédia, a Caravana “Lute pelo Rio Doce” que reuniu 22 pessoas, entre professores, estudantes e técnico-administrativos da UFJF que acompanharam e registraram o caminho percorrido pela lama de rejeitos que atingiram o Rio Doce. Formado por cinco carros, o comboio partiu de Governador Valadares no dia 23 de novembro e percorreu várias cidades, se somando à rota “Norte Fluminense” da Caravana do Rio de Janeiro, que teve sua culminância entre os dias 27 e 28 de novembro em Casimiro de Abreu. E, foi justamente do encontro de rotas, redes, movimentos e organizações de pesquisa, que no dia 27 de novembro de 2015, ocorreu a primeira reunião na qual a proposta da Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce começou a ser gestada.

Durante a Caravana do Rio Doce, o NAGÔ e outros importantes parceiros como o MST-MG (Assentamento Oziel Alves), o CAT – Centro Agroecológico Tamanduá, construíram ainda a terceira rota da caravana que partiu de Governador Valadares. Durante quatro dias a rota circulou pela região do Médio Rio Doce, passando por por oito comunidades em seis municípios diferentes. Os afluentes do médio rio Doce foram o foco da rota, trazendo a perspectiva da interligação dos acontecimentos relativos ao crime de Mariana e o modelo de desenvolvimento imposto na região do médio rio Doce. Foi possível perceber o grau de degradação do médio Rio Doce, principalmente dos seus afluentes naquela região que estão seriamente ameaçados pelo desmatamento e por uma exploração pecuária que degrada os solos, destrói nascentes e concentra terra.

Para Reinaldo Duque-Brasil, um dos educadores que coordenam o Nagô, “temos que transformar luto em luta e garantir que as vozes do Rio Doce não sejam esquecidas. São muitos os impactos na saúde, no solo, na vida”.

Comboio Agroecológico, as parcerias da região sudeste e a rota dos Rios “Piranga e Casca”

“As principais atividades realizadas pelo Comboio para fortalecer a articulação entre as organizações nos territórios são as Caravanas Agroecológicas e as Excursões Científicas”, diz Irene Cardoso, coordenadora do Comboio Agroecológico do Sudeste, projeto da Rede de Núcleos também apoiado pelo edital 81.

O projeto, coordenado por Irene Cardoso,  da Universidade Federal de Viçosa, que também é presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), já realizou cerca de 3 Caravanas pelos estados de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha), Espírito Santo e Rio de Janeiro e se prepara para realizar a última, no Vale do Ribeira em São Paulo, entre os dias 17 a 22 de maio.

Na Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce, o projeto Comboio atuou em parceria com outros três Núcleos de Agroecologia que contam com apoio do edital 81, o Ecoar – também sediado na UFV – que realiza o Projeto “Ecoar – práticas, ciências e movimentos”, o NIA – Núcleo Interdisciplinas de Agroecologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que realiza o projeto “Ambientes de Interação Agroecológica” e o Grupo de Agricultura Ecológica KAPI’XAWA, que atua em parceria com a UFES – Universidade Federal do Espírito Santo. Todos são núcleos que mobilizaram bolsistas e parceiros para a relatoria gráfica e outras ações da Caravana.

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Equipe de Relatoria e Comunicação formada por bolsistas dos NEAs/Foto de André Azhory

Os NEAs de Viçosa somados à outros parceiros, como a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFV, atuaram na construção da rota “Piranga-Casca” da Caravana que visitou as regiões do Alto Rio Doce – rios Piranga e Casca – que não foram atingidas diretamente pelo rejeito da barragem, embora a tragédia-crime também tenha influenciado a região.

A rota teve como objetivo principal, diferentemente das demais, ressaltar os principais anúncios no trajeto da bacia do Rio Doce com diversas experiências de recuperação de nascentes e dos rios, de agricultura agroecológica, de saneamento rural com fossas sépticas construídas pelas comunidades, da potência das escolas da família agrícola e projetos de extensão. Outras duas rotas, com origem em Mariana-MG (Baixo Rio Doce) e Anchieta-ES (Foz do Rio Doce) também foram realizadas e envolveram outros grupos das universidades, entre outras organizações.

Os NEAs e a construção das Caravanas

Os NEAs estão entre as experiências mais recentes de indissociabilidade entre as práticas de ensino, pesquisa e extensão nas quais, a Agroecologia vem se desenvolvendo e se enraizando. Espalhados por todo o território brasileiro, os núcleos cumprem o objetivo de ampliar a pesquisa e produção científica, a formação e a disseminação dos conhecimentos com base nos princípios da agroecologia.

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Representações das experiências na Instalação Pedagógica da Caravana – Rota 2 Alto Rio Doce/Foto: André Azhory

Desde o processo de preparação ao III Encontro Nacional de Agroecologia, ocorrido em 2014, cerca de quinze caravanas foram realizadas em diferentes territórios do paíś, reunindo diversos estudantes, agricultores, professores, movimentos sociais, coletivos e gestores públicos. Após este primeiro ciclo, realizado entre 2013 e 2014, dois principais projetos impulsionaram a construção de novas Caravanas.

Pelo projeto “Promovendo Agroecologia em Rede” realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), com apoio da Fundação Banco do Brasil e do BNDES, territórios como o Araripe, Rondônia e o litoral do Rio Grande do Sul, foram percorridos. Com recorte regional da Rede de Núcleos de Agroecologia, o Projeto Comboio já realizou três como citado acima.

As Caravanas, ao mobilizarem estratégias metodológicas de percurso, reconhecimento e análise dos territórios, ampliam o potencial de mobilização e exercício de outros caminhos para analisar a realidade. Nessa travessia, o compromisso com a visibilização dos conflitos e com o anúncio de experiências agroecológicas que se mantém a partir dos saberes e das práticas locais tecidas pelas comunidades.

A metodologia aponta no sentido de integrar ações, construir articulações, usando técnicas que visem à participação equitativa e a valorização de conhecimentos e experiências. Em sua proposta metodológica estão as Instalações Pedagógicas, os percursos descentralizados em rotas, a parceria com os comunicadores populares, as plenárias políticas de diálogo com a sociedade, os atos públicos entre outras ações. O recado das Caravanas é preparar as malas, sempre com o cuidado de deixar espaços para caber histórias de lutas, de conquistas e de celebrações.

O projeto de Sistematização de Experiências da ABA

O Projeto de Sistematização de Experiências é apoiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e pelo CNPq. Trata-se de uma articulação entre a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) que nos últimos anos vem construindo, mais recentemente, no âmbito da CNAPO – Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, ações no campo da Construção do Conhecimento Agroecológico e da Educação em Agroecologia. As chamadas para os Núcleos de Estudos em Agroecologia são fruto dessas articulações, nas quais o Projeto de Sistematização surge como uma oportunidade de registrar, refletir e produzir sínteses sobre esse formato de política pública em curso nos últimos anos.

O projeto tem como objetivo principal compreender as práticas dos Núcleos (NEAs) e Redes de Núcleos de Estudos em Agroecologia (R-NEAs) por meio de processos de sistematização participativa de suas experiências. O desafio é extrair lições que apontem à proposição e reformulação de políticas públicas vinculadas à construção do conhecimento agroecológico, contribuir para o aperfeiçoamento das chamadas públicas de Agroecologia e para o aprimoramento e ampliação da Agroecologia.

O envolvimento dos NEAs e o trabalho articulado para a realização da Caravana do Rio Doce, por exemplo, é uma das experiências que serão registradas e analisadas conjuntamente tendo as referências da Educação Popular, como um dos pilares metodológicos, e o fortalecimento da agroecologia, enquanto movimento, ciência e prática, como horizonte. Para saber mais: sistematiza.aba@gmail.com

Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce

Seu objetivo foi construir convergências, agregar e mobilizar forças da sociedade civil organizada e reunir e articular leituras populares e críticas sobre as causas e consequências da tragédia/crime. A busca por alternativas e as articulações em busca de justiça seguem e os materiais produzidos, como a carta política, ao longo desses seis dias serão divulgados em breve e muitos já estão disponíveis na rede social: https://www.facebook.com/Caravana-Territorial-da-Bacia-do-Rio-Doce-439933599549529/

 

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