“As crianças não chegam a este mundo para brincar de viver. Para elas, brincar é viver”. (Lydia Hortélio)
O GT Infâncias da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) se consolidou em dezembro de 2021, mas essa demanda já pulsava nas Cirandas dos Congressos Brasileiros de Agroecologia (CBAs). Foi em 2019, no XI Congresso Brasileiro de Agroecologia, através dos versos da carta-cordel-manifesto da Ciranda Criativa, que se afirmou a necessidade da sua criação.
Este GT se constitui enquanto um campo político-pedagógico interdisciplinar, que agrega pesquisadoras/es, ativistas, educadoras/es comprometidas/os com as questões políticas que dizem respeito às crianças como atores sociais, cidadãs de direitos.
A partir de estudos diversos, o GT Infâncias abraça uma concepção de crianças enquanto atores na construção e determinação das suas próprias vidas sociais, das vidas dos que as rodeiam e das sociedades em que vivem. Portanto, defendemos que as crianças não são os sujeitos passivos de estruturas e processos sociais.
Quanto a concepção de brincar, entendemos que se trata de um direito e uma linguagem de conhecimento construído nas interações com os pares, crianças e adultos. O brincar precisa dialogar com as questões fundamentais das infâncias e da agroecologia, possibilitando a construção de outras práticas no processo de formação humana.
Sobre a formação humana, o GT acredita que não é possível pensar agroecologia como proposta política pedagógica na infância sem ter como eixos norteadores das ações o cuidado com a saúde, bem como a opção por uma educação que se volte para reflexões profundas em torno de temas como: desigualdade social, acesso a direitos, direito das crianças, alimentação saudável, dentre outros. Ou seja, a atuação do GT se volta para o fortalecimento de ações e reflexões sobre práticas individuais e coletivas que possam contribuir para construção de políticas e práticas que entrelacem a agroecologia e o desenvolvimento integral das crianças.
É importante fazer valer, neste Grupo de Trabalho, a voz e a escuta ativa para com as crianças, nos colocando como sujeitos que representam e lutam para a garantia dos seus direitos. Além disso, as reconhecem como sujeitos históricos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivenciam, constrói sua identidade pessoal e coletiva. Sujeitas/os que, brincam, imaginam, fantasiam, desejam, aprendem, observam, experimentam, narram, questionam e constroem sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
Princípios e objetivos norteadores do GT Infâncias:
1 – Valorizar a convergência entre Infâncias e Agroecologia, a partir do reconhecimento de que a construção da agroecologia começa nas infâncias, numa fase em que as identidades das crianças e o protagonismo precisam ser ressaltados e respeitados;
2 – Possibilitar que as crianças ergam suas vozes, conquistando visibilidade como cidadãs de direitos, que participam ativamente da vida na sociedade;
3 – Assumir as infâncias nas suas especificidades e diversidades – indígenas, quilombolas, negras, do campo, das florestas, das águas, das cidades, entre outras –, fortalece a Agroecologia em todas as suas dimensões e princípios.
4 – Agregar as experiências e a produção teórica de diferentes grupos de estudos que movimentam o campo das infâncias. Evidenciando o processo de construção das pesquisas realizadas, a pluralidade e diversidade histórica das temáticas (cultura, brincar, educação, saúde, relações étnico-raciais, infâncias sem racismo e anti-racistas, etc.), seus resultados, bem como os posicionamentos sociais e políticos em defesa das infâncias e do brincar em todas as suas expressões;
5 – Organizar e construir junto às crianças, aos movimentos, organizações e coletivos diferentes espaços de diálogos e partilhas que promovam reflexões sobre educação para relações étnico-raciais em defesa das infâncias sem racismo e antirracistas;
6 – Articular e visibilizar as experiências dos movimentos sociais, grupos, entre outros coletivos, que vivenciam trabalhos de valorização das infâncias e Agroecologia. Propondo assim, práticas agroecológicas orientadas pelo contato das crianças com a natureza em espaços escolares e não escolares, organizadas por meio de ações lúdicas que venham promover a agroecologia como ferramenta didático-pedagógica.
“Esse texto é para ousar dizer
Que a Agroecologia
Tem que expandir seu fazer
Botar na ordem do dia
Que é da criança que parte
A tal da soberania”
Trecho da Carta-Cordel-Manifesto produzido por Caio Meneses e Luana Freitas. Apresentada no encerramento do XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) realizado em Sergipe/Aracaju.