A Agroecologia que cresce e floresce no Centro Oeste Brasileiro

O Encontro Regional de Grupos de Agroecologia e a participação expressiva da ABA na Feira Agro Oeste Familiar colorem a região que se prepara para receber o 10º Congresso Brasileiro e Latino Americano de Agroecologia em 2017
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Troca de Sementes Crioulas na Feira Agro Oeste Familiar

O dia nem amanhece e os estudantes do NEPA – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Agroecologia do Instituto Federal de Urutaí se somam aos colaboradores da REGA – Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil para preparação do espaço de acolhida e acampamento dos grupos de agroecologia. “Torveiros” – chuveiros instalados a baixo custo com canos e torneiras, forno de barro, “xepa” de feira, doação de alimentos – entre eles 10 Kgs do arroz agroecológico do MST, o “Terra Livre” – oficinas, rodas de conversa e atividades culturais fazem parte do repertório do I Encontro Regional de Grupos de Agroecologia do Centro-Oeste – ERGA-CO. Tudo é preparado com muito carinho e de forma autogestionada, como sempre são construídos e organizados os encontros e as articulações da Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil – REGA Brasil.

A região recebe a primeira versão do encontro regionalizado que será animado pela REGA em todas as regiões do país. Construir encontros regionais é a realização de um sonho antigo da REGA. A decisão de construir os ERGAs a partir do ano de 2016 foi um encaminhamento coletivo tirado do último Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia (ENGA) em Belém, com o intuito de dinamizar as articulações, o fluxo de informações, a autonomia e o apoio mútuo nas diferentes regiões do país. Na estrada, integrantes de cerca de 10 grupos de agroecologia da região mais diversas pessoas não vinculadas à grupos. São eles: Grupo de Manejo Agroecológico do Solo (GEMAS), Saberes de Gaia e Centro de Desenvolvimento Agroecológico – todos da UFG; GWATÁ-UEG; Escola Família Agrícola (EFAGO) e Agroecologia IFG – ambos da Cidade de Goiás; Balaio Cerrado-Goiânia, Grupo de Trabalho em Agroecologia e Espaço de Convivência Agroecológica (GTA/ECOA) – IFB Planaltina; Mutirão Agroflorestal; e diversas pessoas e organizações, rumo à pacata Urutaí. A cidade com 3.074 habitantes (IBGE 2010) mantém desde 2000 o IF com quatro cursos técnicos , 10 de graduação e 02 mestrado profissional e uma pós latu senso de graduação.

Estudantes de diferentes estados do Centro Oeste, do Norte de Minas, de São Paulo e de outros lugares do país estudam e residem no Instituto que, além do ERGA-CO, recebeu pela primeira vez também a Feira Agro Centro-Oeste Familiar. Feira regional que é realizada desde 2000 com objetivo de promover a agricultura familiar como “segmento produtivo” essencial para a geração de emprego, renda e produção de alimentos “seguros” para a população.

Na programação do ERGA-CO e da Feira, diferentes atividades foram realizadas pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroeocologia). Além das atividades descritas abaixo, a Feira de Troca de Sementes Crioulas e o II Encontro de Técnicos, no qual uma mesa com representantes da juventude dos movimentos sociais e Escolas Famílias Agrícola, debateu o “papel da juventude para a transição agroecológica”.

Projeto de Sistematização de Experiências
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Roda de Conversa no I ERGA-CO

No dia 26/04, dentro da programação do ERGA-CO, a Roda de Conversa “O que estamos aprendendo juntos?” reuniu cerca de 40 pessoas, entre elas os grupos de agroecologia, os/as estudantes secundaristas e de graduação do IF, docentes e agricultores/as. Com o objetivo de apresentar o Projeto de Sistematização de Experiências realizado, pela UFV em parceria com a ABA, e fortalecer as ações conjuntas no Centro Oeste.

Com a participação de Daniela Pacífico, da direção da ABA, a oficina debateu os diferentes significados da agroecologia para os participantes e os caminhos possíveis para fortalecer a agroecologia na região centro oeste. Entre as principais contribuições, da oficina orientada pelos círculos de cultura do Paulo Freire, estiveram a necessidade do trabalho coletivo, da articulação, da construção de agendas comuns e, principalmente, a necessidade de ações práticas que mobilizem e articulem os agricultores.

No Centro Oeste, além dos Institutos Federais e de projetos das universidades vinculados à outros editais, são oito NEAs articulados pelo edital 81. São dois núcleos na UNB (DF), dois em Goiás da UFG (Catalão e Jataí), dois em Mato Grosso (Cuiabá, pela UFMT e Pontes Lacerda, pela UNEMAT) e, por fim, dois em Mato Grosso do Sul em Dourados pela UFGD.

10º Congresso Brasileiro e Latino Americano de Agroecologia
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Oficina sobre o 10º CBA colhe sugestões dos participantes

A Oficina Brasília Agroecológica 2017: “Caminhos e Caminhar”, realizada no dia 28/04, reuniu representantes da comissão organizadora local do 10º Congresso Brasileiro e Latino Americano de Agroecologia que está previsto para setembro de 2017 em Brasília. Mariane Vidal, que preside a comissão, explica que “o trabalho conjunto e articulado regionalmente será essencial para viabilizar o que estamos sonhando para o CBA e para todos os eventos paralelos que ocorrerão em 2017 em Brasília”.

A atividade foi realizada durante a Feira Agro Oeste Familiar, fruto da articulação e mobilização da vice presidência da ABA Centro Oeste, da REGA Brasil, da Rede de NEAS Centro Oeste. A oficina contou com a participação de estudantes, professores/as, pesquisadores/as e agricultores, o que possibilitou a colheita de contribuições sobre os sonhos, as temáticas e as sugestões de diferentes formas de envolvimento dos/as principais protagonistas da agroecologia e, segundo Mariane, um dos maiores desafios será o envolvimento contínuo e permanente dos agricultores/as e dos povos e comunidades tradicionais. As atividades de construção dos eventos seguem, descentralizadas em comissões, e a próxima reunião está agenda para dia 5 de maio no Centro de Capacitação da CEASA-DF.

Mesa “Agrotóxicos, Saúde e Meio Ambiente: Os impactos no Estado de Goiás e Oficina “Gênero, Agroecologia e Segurança Alimentar Nutricional”

Com a participação de Leonardo Melgarejo, Murilo Mendonça, Cleber Folgado e Mauro Rubem, a roda de conversa “Agrotóxicos, Saúde e Meio Ambiente: Os impactos no Estado de Goiás”, realizada no dia 29, trouxe para o centro do debate os malefícios do modelo agrícola baseado no uso de venenos e insumos químicos extremamente expressivo no Centro Oeste brasileiro.

Animada por Islandia Bezerra (Dnut/UFPR e GT Campesinato e Soberania Alimentar – ABA) e Jussara Campos (MEC-SETEC /IFGOIANO) trouxeram para o debate tem

as que problematizaram o atual modelo de produção e consumo de alimentos e, também sobre como a agroecologia e as mulheres contribuem para a construção do projeto da Soberania Alimentar.

As ações em rede: Rumo à 1º Caravana do Centro Oeste

As Caravanas Agroecológicas e Culturais também foram estratégias metodológicas debatidas nos dois encontros (ERGA e a Feira). Com a abordagem territorial e o olhar atento às denúncias e anúncios existentes nos percursos percorridos, a Caravana é uma potente ferramenta de articulação e mobilização.

O projeto da Rede de Núcleos do Centro Oeste, coordenado pelo professor Wilson Mozena da Universidade Federal do Goiás (UFG), é apoiado pelas chamadas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e tem como objetivo fortalecer a agricultura familiar no Centro Oeste reunindo qualidade de vida, produção de alimentos saudáveis e a preservação ambiental por meio da ação articulada entre pesquisa, ensino e extensão em agroecologia.

No dia 29/04, mais uma roda de conversa, possibilitou a troca de experiências com o projeto Comboio Agroecológico do Sudeste, a partir da participação de Leandro Lopes (UFV), que partilhou alguns elementos importantes na construção das Caravanas na região sudeste, bem como as conquistas percebidas, a partir e seu exercício.

A roda de conversa permitiu aos participantes aprofundar ainda mais sobre os processos de articulação, financiamento e logística relacionados à realização de uma Caravana. As experiências articuladas pelos núcleos dos Estados de GO, MS, (inclusão de Tocantis) e Distrito Federal estão cogitados para serem os pontos de partida da primeira Caravana do Centro Oeste. A ideia é articular as forças em curso no território e ter, como foco: a sistematização de experiências e, como horizonte: a mobilização e a preparação para o 10º CBA.

A semana encerra-se com o sentimento de missão cumprida. Estudantes, professores/as, os/as pesquisadores/as da ABA, os grupos e núcleos de agroecologia, retornam de Urutaí certos de que são muitos os desafios colocamos para que a agroecologia avance sobre o modelo agrícola imposto ao Centro Oeste. Ao mesmo tempo, a partilha de sonhos e caminhos comuns tece e reforça uma bonita rede que recobre o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia, e revitaliza a força dos povos e comunidades tradicionais que seguem juntos apostando na agroecologia.

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Sementes Crioulas do Cerrado

Fortalecer a comunicação e as agendas comuns dos NEAs atuantes no Centro Oeste e promover ações conjuntas que aproximem pesquisadores, estudantes e parceiros serão as prioridades do projeto de sistematização de experiências nas próximas semanas. Uma reunião online, agendada para o dia 10 de maio às 15h, está marcada para avançar na construção da primeira Caravana do Centro Oeste.

Para participar escreva para: sistematiza.aba@gmail.com

Este texto foi escrito de forma colaborativa por: Juarez Rodrigues (ABA), Mariana Pontes (REGA), Raoni Costa (CBA/ABA), Islandia Bezerra (ABA/UFPR), Raniere Ramadan (R-NEA do Centro Oeste) e Natália Souza (Projeto de Sistematização de Experiências).

 

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