Associadas e associados festejaram com lançamento de publicações e homenagem aos extensionistas comprometidos com a construção da agroecologia
Fez uma noite quente em Brasília para os festejos de 20 anos da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), comemorados no Armazém do Campo-DF, na última sexta-feira (6). “Estamos aqui na alegria de celebrar 20 anos de história construída a partir da luta por outra ciência. Luta que é compromisso de mulheres e homens fazendo história a partir das universidades, centros de pesquisa, ONGs e movimentos sociais, construindo uma crítica potente àquela ciência historicamente comprometida com a morte e apontando outros caminhos”, festejou José Nunes, presidente da associação.
Nunes agradeceu a todos e todas aquelas que vieram antes dele na ABA-Agroecologia: “a quem chegou antes de mim, ainda bem que chegaram , ou eu não estaria aqui”. E saudou também a juventude que amplia a associação entusiasticamente, “apontando para o futuro e colhendo o conhecimento dos que vieram antes”. “Agradeço o esforço e o trabalho de todos e todas que fazem da ABA, é de associados e associadas que se faz uma associação, afinal”, pontuou.
“Seguiremos investindo nas nossas revistas, canais de comunicação, encontros e congressos. Hoje pode ser que não estejamos ganhando, mas em nenhum minuto pensamos desistir da luta. E é isso que nos garantirá mais 20, mais 50 anos na construção sólida do conhecimento agroecológico”, destacou o presidente da ABA-Agroecologia.
Celebração dos e das Extensionistas Rurais
As e os extensionistas rurais foram especialmente lembrados no evento, como peças importantes na construção do conhecimento agroecológico. Presidente da vice-regional Norte da ABA-Agroecologia, a professora da Ufopa, Danielle Wagner Silva, lembrou que 6 de dezembro é marcado no calendário nacional como dia desses profissionais.
“A ABA-Agroecologia celebra a existência do serviço de extensão rural e dos profissionais que pautam suas ações tendo como base o conhecimento agroecológico e popular. Homenageamos especialmente as e os extensionistas que compõem nosso quadro de associados e aqueles que trabalham na formação dos extensionistas rurais. Reconhecemos aqui a importância do extensionista rural como profissional que está resiliente no front, construindo metodológica e politicamente a agroecologia, e colaborando na implementação das políticas públicas”, destacou a professora, saudando ainda mais especialmente aqueles que são “agitadores” – e agitam os demais, em alusão ao poema de Francisco Julião: “é agitando que se transforma a vida e o mundo”.
Lançamento de publicações
Na oportunidade das comemorações foram lançadas publicações que reverenciam a memória da própria ABA-Agroecologia. Marília Nepomuceno, coordenadora do Projeto Desaguar, ressaltou a multiplicidade de atores envolvidos na sistematização dos aprendizados do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia. O Desaguar tem cuidado desse processo. Marília destacou, entre as muitas escolhas metodológicas feitas pela equipe que trabalhou na publicação que sistematiza memórias e aprendizados principalmente em torno dos CBAs, a flexão de gênero dos plurais no feminino ao longo dos textos, com objetivo de visibilizar o papel e importância das mulheres no mundo em que vivemos, e em especial no horizonte de trabalho e experiências da agroecologia.
Sobre o folder “Uma cozinha protagonizada pelas cozinheiras agroecológicas”, Marília destacou a escolha visual que dá vida ao material e saudou o trabalho dos alunos do curso de Antropologia e Design da Escolha de Design Industrial (ESDI) da UERJ, parceiros no desenvolvimento da publicação. “Essa construção revela o desejo do movimento de estar junto das juventudes ávidas por aprendizado e experiências que lhes tragam sentido na descoberta do mundo em que vivemos, lidando com seus desafios e potências. Assim como reforça a importância de estarmos em diálogo junto à universidade pública, a partir do ensino, pesquisa e extensão”, comentou, destacando que os colaboradores gráficos, responsáveis pela diagramação e ilustração da publicação sobre as cozinheiras e cozinhas agroecológicas eram alunos do 2º semestre da graduação da ESDI.
Também foram apresentadas as publicações do Núcleo de Agroecologia Juçara e o 2º Boletim do Projeto ERA – Extensão Rural e Agroecologia (FAV/UnB/MDA).
O professor Romier da Paixão Sousa, ex-presidente da ABA-Agroecologia, lançou o livro organizado por ele “Resistências no Chão da Floresta: Agroecologia na Amazônia”, resultante também da construção de um documentário que registra e discute as experiências de agroecologia na região amazônica, valorizando a relação entre sociedade e natureza por meio de uma “pedagogia da realidade”.
Caminho da história, o futuro
O evento “Memórias da Agroecologia” foi iniciado com a caminhada de associados trazendo cartazes dos Congressos Brasileiros de Agroecologia (CBA) realizados ao longo dos últimos 20 anos. No encerramento, a mística simbolizou o futuro com nova caminhada, que hoje aponta o próximo Congresso, em 2025, sendo sediado na Univasf, desaguando os aprendizados e experiências no Rio São Francisco. Nesta mística, os associados trouxeram o Rio do tempo da ABA-Agroecologia, fruto da construção coletiva de associados da ABA-Agroecologia.
O Rio do Tempo resgata de forma gráfica marcos importantes nos 20 anos de trabalho da associação. No desenho impresso em grande tecido o Rio é uma espécie de linha do tempo com afluentes que marcam a história da associação e de outros coletivos do movimento agroecológico. Também estão registrados pontos fundamentais na luta por políticas públicas da área. O Rio do Tempo da ABA-Agroecologia seguirá sendo abastecido a partir de oficinas que serão organizadas em 2025 e estará, assim como as demais publicações do projeto desaguar, disponível no site da ABA-Agroecologia.
Rumo ao São Francisco
Assim, a mística final abriu caminhos para o futuro, lembrando que o próximo Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) será realizado às margens do rio São Francisco, com os pés em Juazeiro (BA) e também em Petrolina (PE), articulando fortemente todo o semi-árido brasileiro e o Nordeste, em 2025.
Segundo o professor Helter Ribeiro Freitas, da Univasf, que receberá o 13º CBA, a escolha do local tem muito de história: é reflexo dos acúmulos garantidos a partir de iniciativas e processos iniciados em 2014, no Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), realizado por lá.
Na opinião do professor, um dos temas que vai nortear o próximo encontro são os desafios do clima. “Apesar da COP 30 ser realizada na Amazônia, o semi-árido tem muito a ensinar ao Brasil e ao mundo sobre adaptação e resiliência. Entre os biomas brasileiros, acredito que seja o com maior acúmulo nisso. Afinal, a história do movimento agroecológico na região é a da convivência, da valorização das práticas e tecnologias sociais que permitem dar respostas aos desafios”, afirma.