O I Encontro de Núcleos de Agroecologia da Paraíba aconteceu nos dias 22 e 23 de setembro na cidade de Sumé/PB, organizado pelo Programa de Ações Sustentáveis para o Cariri (PASCAR). O Programa, sediado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), trabalha para o fortalecimento da transição agroecológica a partir da Educação em Solos e do estímulo ao protagonismo feminino e das juventudes.
O encontro constituiu-se em um momento formativo entre os Núcleos de Estudo em Agroecologia (NEAs), com ênfase na sistematização de experiências, inaugurando um movimento de integração e articulação em rede entre os cursos de Agroecologia e NEAs do estado a partir da organização de eventos como este em cada universidade e/ou instituto que contenha um NEA. A realização destes encontros foi sugerida durante o Seminário de Sistematização de Experiências dos Núcleos de Agroecologia do Nordeste, ocasião que possibilitou a reunião de representantes de diferentes NEAs do estado da Paraíba, as/os quais visualizaram nos intercâmbios e procedimentos colaborativos o caminho coerente para a aprendizagem e para a elaboração da sistematização das experiências desenvolvidas pelos núcleos.
Compartilhando experiências, integrando ações
A abertura do primeiro dia do encontro, no dia 22, aconteceu de forma lúdica e interativa, contando com a apresentação do teatro de bonecos utilizado pelo PASCAR em seu projeto “Solo na Escola”, que é executado junto à escolas da localidade, o qual entende a Transição Agroecológica a partir da “Transição da Mente”, ou seja, pela tomada de consciência por meio de processos educativos que incentivem o senso crítico.
As pessoas presentes foram estimuladas a pensar sobre o que é a Agroecologia, a partir das provocações: “Para que, Para quem e Porque?”. Uma das questões que ficou evidente sobre a Agroecologia é seu caráter dialético, que se forja a partir de reflexões, debates e fricções de ideias, por vezes dicotômicas, das quais finalmente se geram aprendizagens e novas compreensões e sínteses. Outros atributos levantados foram a sua leitura politizada e crítica acerca da realidade, bem como a característica solidária e necessidade articulatória entre os agentes que a compõem.
Os núcleos presentes foram convidados a utilizar de sua criatividade para prepararem materiais para a montagem de instalações pedagógicas, com o intuito de apresentarem suas atividades por meio de linguagens e manifestações variadas. Além do PASCAR, anfitrião do evento, estiveram presentes o Núcleo de Estudos em Agricultura Ecológica do Sertão Paraibano (NAESP)/IFPB – Campus Sousa, o Movimento de Educação do Campo e Agroecologia (MECA) junto à Coletiva Feminista Artemísia, os quais participam da constituição de um novo NEA no Colégio Agrícola Vidal de Negreiros – instituição de ensino localizada no campus da UFPB em Bananeiras/PB, o Núcleo de Extensão Rural Agroecológica (NERA)/UEPB – Lagoa Seca, o Movimento Agroecológico (MAE) de Areia/PB e o NEA Picuí/IFPB.
O segundo dia iniciou com uma visita aos espaços onde o PASCAR desenvolve algumas de suas atividades juntamente aos jovens estudantes da Escola Agrotécnica de Ensino Fundamental Dep. Evaldo Gonçalves de Queiroz. Estes espaços abrigam um banco de sementes, um museu educativo do solo e um atelier para o desenvolvimento de atividades com o uso de geotintas, de onde saem belas obras de arte desenvolvidas pelos próprios estudantes do campus. No retorno à plenária resgatou-se o encaminhamento do Seminário de Sistematização do Nordeste relativo ao acompanhamento do processo de sistematização de três experiências nordestinas, a ser realizado por parte da ABA de forma mais intensa e aprofundada. Na ocasião, mesmo com a escolha do NEA de Bananeiras, os núcleos paraibanos fizeram uma proposta coletiva e articulada a nível estadual de apoio mútuo para a operacionalização das atividades referentes à sistematização, sendo a realização deste primeiro encontro um desdobramento desta proposta feita ainda no seminário e fruto do tecer da Rede Nordeste de Núcleos de Agroecologia (RENDA, R-NEA Nordeste).
Partindo da experiência enquanto matriz geradora da aprendizagem coletiva, é importante salientar a contribuição que a sistematização tem, através do registro e organização do acúmulo de saberes, na construção do conhecimento agroecológico e na sua difusão.
Informação é poder
A Comunicação foi outro tema relevante na programação. O documentário “O Semiárido contado por sua gente”, realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e que apresenta experiências de comunicação popular no semiárido, serviu como inspiração para suscitar debates. A comunicação foi tratada a partir de uma leitura crítica e politizada, abordada enquanto um direito fundamental a ser garantido e democratizado tal qual o direito das mulheres, da juventude ou do acesso à terra, ao trabalho, à água, entre outros. O espectro radioelétrico, tal qual a terra, estão respectivamente concentrados nas mãos de um oligopólio midiático e de oligarquias agrárias seculares, muitos dos quais detém ambos os capitais, assim sendo podemos traçar um paralelo entre o latifúndio da terra e o “latifúndio do ar”, este último envolvendo a concentração das telecomunicações. O documentário apresentado trata da crucial importância da comunicação para a promoção da visibilidade de atores historicamente marginalizados bem como para o despertar de consciências as quais, após despertas, levam à constituição de sujeitos políticos protagonistas de sua própria história em contraponto à formação de meros consumidores passivos que é gerada pela grande mídia e a cultura de massas moderna. Da oficina saiu o encaminhamento da organização de uma atuação conjunta e articulada em rede dos comunicadoras/es populares*** da região nordeste, bem como a proposta do fomento do debate sobre a temática em outros eventos e ocasiões.
Integra-ação: articulando ações em rede
A potência e a necessidade da organização, da articulação e da integração – do fazer junto – para o apoio, fortalecimento mútuo e perpetuação das iniciativas ficou evidente. Seja a integração entre a universidade e os movimentos sociais e organizações de agricultoras/es familiares e camponesas/es, seja a integração entre a cidade e o campo, seja dos NEAs e os Grupos de Agroecologia acadêmicos entre si. Provavelmente esse estado de espírito presente durante o encontro tem a ver com a trajetória do Movimento Agroecológico da Paraíba, que possui vários exemplos de iniciativas colaborativas e complementares, o que dialoga diretamente com a proposta de um conviver solidário que faz parte da Agroecologia. E para o processo de sistematização de experiências não poderia ser diferente, sendo a realização deste primeiro encontro de NEAs uma mostra disso.
Na tarde do dia 23 foi o momento de pensar em uma agenda comum, em ações estratégicas, no planejamento, na organicidade e na articulação em rede da Paraíba, em interação com o resto da região nordeste. Dentre os temas emergentes esteve a necessidade de se pensar em estratégias para a manutenção das atividades dos NEAs, considerando o atual contexto político e a possibilidade de corte de auspícios públicos – particularmente os federais; se faz necessário pensar em possibilidades de captação e mobilização de recursos que viabilizem a continuidade das ações. Novamente a lógica guia das propostas, que garantirá a continuidade dos trabalhos, foi a atuação interseccional e articulada em uma rede de apoio mútuo. Foi construída coletivamente uma linha do tempo a partir da realização de um resgate histórico e pelo registro dos acontecimentos relevantes na constituição da rede agroecológica estadual. Na linha do tempo, além de se traçar uma retrospectiva, foi construída uma Agenda Agroecológica Comum, com a previsão de alguns eventos que estão dispostos a seguir.
Agenda Agroecológica
2016
Outubro
* 17 e 18 – Caravana Agroecológica, Princesa Isabel/PB;
* 21 a 25 – IX Encontro Nacional da Articulação Semiárido Brasileiro – ASA (EnconASA), Mossoró/RN;
* 26 a 28 – Plenária Juventudes e Agroecologia, Recife/PE.
Novembro
* Oficina de Construção da Programação e Metodologia do Brasília Agroecológica 2017, em Brasília/DF;
Dezembro
* 05 a 09 – Feira do Solo, Sumé/PB;
* 13 a 15 – Encontro sobre Tecnologias Agroecológicas: Popularização da Ciência, Picuí/PB;
* 16 a 20 – V Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia (ENGA) na UFPB, Solânea-Bananeiras/PB;
* 04 a 10 – Estágio Interdisciplinar de Vivência. FEAB/MAE, Areia/PB.
2017
* I Encontro Regional de Grupos de Agroecologia do Nordeste (REGA Brasil);
* II Seminário de Sistematização do NE, depois do carnaval;
* XVI ERA- Alagoas.
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*** O presente artigo é fruto da atuação conjunta da rede de comunicadoras/es.
Texto: Tatiana Weckeverth/ Comunicadora ABA
Revisão: Yan Aguiar