Durante a Assembleia Geral da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), realizada no dia 27 de novembro, durante o Congresso Brasileiro de Agroecologia, em Porto Alegre, foi eleita por aclamação geral a nova presidenta da organização. A professora Irene Cardoso, do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, é a nova representante junto à coordenação nomeada. Na ocasião também o ocorreu a prestação de contas da última gestão e a definição do local do próximo Congresso, previsto para novembro de 2015, além de outros encaminhamentos.
De acordo com o atual presidente da ABA, Paulo Petersen, a última direção procurou seguir os princípios deixados por José Antônio Costabeber, que faleceu durante sua presidência. Ele manifestou em nome da direção o agradecimento à comissão organizadora do Congresso, que foi capaz de realizar um evento de grande porte sem perder a qualidade.
“Tivemos uma prova do esforço que foi feito para construir esse espaço de muita participação, tudo que falamos na nossa retórica foi colocado em prática. Isso é uma prova de que a partir dos nossos locais podemos mostrar a realidade nacional, e manter essa qualidade. Há certa sequência e coerência com o que vem sendo feito pelas últimas diretorias da ABA. Fizemos uma reunião em 2012, e uma das prioridades foi aprimorar os mecanismos de comunicação. Pensar uma forma de redes, horizontalização, chamar para o debate”, destacou.
Representando a secretaria executiva da entidade, Guilherme Strauch relatou algumas atividades da ABA durante o último ano: captação de recursos, aperfeiçoamento da comunicação, representações institucionais em várias instâncias, constituição de um comitê editorial para publicações, participação na formulação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e no Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, etc.
“A comunicação foi um desafio na reformulação do site para torná-lo mais operativo e com outra proposição. Para isso contratamos um profissional, e criamos também uma nova logomarca da ABA. Lá está a memória dos congressos, seminários, registro fotográfico, biblioteca de documentos e publicações, transparência das finanças com publicação do balancete. Foi lançado oficialmente durante o Seminário Nacional de Educação em julho, e já tem 22 mil visualizações. Hoje temos mais de 700 associados, dentre eles cerca de 600 ativos”, informou.
Em relação à política editorial da ABA, Fabio Dal Soglio, responsável pelo Comitê Editorial, explicou que ficou decidido nos últimos anos ampliar os tipos de mídias para fora do Congresso. Nesse sentido, foram estabelecidos vários processos já que o número de trabalhos tem aumentado em quantidade, qualidade e diversidade. Para ele, é preciso qualificar a revista e mostrar que isso é ciência e quer o espaço que merece.
“O Congresso como um dos veículos editoriais da ABA tem sido muito importante, criando espaços fundamentais de troca de conhecimento de todos os níveis com participação de todas as regiões do país. A Revista Brasileira de Agroecologia no Qualis da Capes está como B2, o que é muito bom em quatro áreas do conhecimento. Éramos B5 em ciência agrária e agora somos B3. Conseguimos definir várias temáticas importantes da política editorial, precisamos crescer nossa capacidade para essas centenas de trabalhos e ampliar nosso quadro de editores. A revista cresceu muito, temos condições de conquistar um Cielo, mas ainda temos problemas sérios com avaliadores que não são da nossa área e não entendem nada”, disse.
Instituições internacionais também têm inserido trabalhos da ABA em seus veículos, lembrou Francisco Caporal, ex-presidente da Associação. Um dia antes da assembleia foi lançado o primeiro número da coleção Transição Agroecológica, realizada em parceria com a Embrapa. Segundo João Costa Gomes, pesquisador da Embrapa, o acordo foi assinado com a ABA em 2009 e prevê dez volumes.
“A concretização desse esforço com um conjunto de dezesseis autores na primeira obra. Tem dez membros do comitê editorial, e um grupo grande de revisão. Temos mais uma edição quase pronta com vinte sistematizações, e o terceiro número será com oito artigos sobre solos. Talvez em março de 2015 todas as publicações estejam impressas”, afirmou.
A tesouraria da ABA em 2013 emitiu 380 boletos, com custo de R$ 2.014,00. O balancete de 2012 está no site, e dobrou as anuidades em 2013, correspondendo a quase R$ 23 mil. O saldo da gestão encerrou com R$ 28.450,63. Claudemir Fávero, do Conselho Fiscal, explicou que no estatuto da ABA tem um conselho para dar parecer sobre as contas e um diário como toda a movimentação financeira desde 2005. A Associação está em dia com as certidões negativas no Ministério do Trabalho, Receita Federal, Secretaria do Estado da Fazenda, etc. Através de projeto elaborado junto ao MMA, os custos de uma reunião do Comitê Editorial da ABA e da diretoria foram totalmente cobertos. Os gastos no CBA são divulgados por meio de um relatório da comissão organizadora do evento.
Até o dia 15 de setembro, de acordo com o prazo estabelecido no estatuto, nenhuma chapa se apresentou para concorrer às eleições. Foi realizada uma consulta ampla com reuniões regionais durante o Congresso e indicado, com autorização de muitos sócios, o nome de Irene Cardoso. A diretoria que vai atuar em 2014 e 2015 é a com maior número de mulheres na história da ABA. A presidente eleita destacou que assume o cargo não por ser professora, e sim pela sua militância nos trabalhos feitos em parceria com os agricultores através do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA). Ela se candidatou sob duas condições: a existência de uma única chapa, pois se tivesse outro nome cederia, e que todos os diretores tivessem a mesma atribuição numa gestão horizontal.
“Somos todos presidentes. Não é porque sou democrática, mas tenho minhas incompetências e por isso prefiro que todos assumam esse compromisso. Estou assumindo porque sou militante, acredito que nesse caminho podemos melhorar a relação com a natureza, a qualidade de vida, uma alimentação saudável, e com os agricultores. Vamos ter cuidado com o acompanhamento da Planapo, e a construção junto com a ANA do III ENA. Acredito e construo a agroecologia enquanto ciência, movimento e prática, e a ABA é o braço científico da ANA, daí o nosso compromisso de construir esse encontro que já começou a partir das caravanas e terá seu ponto culminante em Juazeiro (BA)”, destacou.
A discussão dos cursos de agroecologia e a formação do agroecólogo também serão alvos da sua gestão, complementou a professora. A construção do CBA é outro foco para os próximos anos, de modo a acatar as sugestões apresentadas na Assembleia. Apesar da Copa do Mundo e eleições no próximo ano, concluiu Cardoso, os núcleos que serão aprovados com apoio do CNPq serão importantes na consolidação das dinâmicas regionais e na articulação das redes. “Não somos hegemônicos, estamos lutando contra um poder muito forte e constituído. Mas temos certeza que estamos no caminho certo, e vamos continuar construindo a agroecologia”, finalizou.
A plenária sugeriu que as reuniões para consolidação das chapas sejam realizadas durante os Congressos, além da regionalização da diretoria de acordo com os biomas. Também foi proposto maior participação dos agricultores e estudantes no evento, e a constituição de coletivos regionais para garantir uma atuação mais efetiva junto aos vice presidentes da ABA. Foi aprovada a criação do Grupo de Trabalho (GT) sobre campesinato e soberania alimentar proposto pelo prof. Marcos Figueiredo e outros sócios, e retomado o GT Mulheres.
“Queremos acabar com a invisibilidade das pesquisas, a sistematização do conhecimento a partir das mulheres. Ficou um vazio com a saída da Emma Siliprandi, há a necessidade de incorporar a discussão sobre esse olhar de gênero das mulheres e do feminismo. Poucos trabalhos são apresentados nessa temática, então fizemos uma oficina com mais de 50 mulheres no CBA e construímos a proposta de retomar esse GT. Sem feminismo não há agroecologia”, afirmou Letícia Jalil, professora da UFRPE, nova representante.
O próximo Seminário Nacional de Educação será realizado na Universidade do Paraná. E o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia está previsto para a Amazônia, em Belém (PA), no final de 2015. O único projeto apresentado até a data estipulada trouxe a reivindicação de dar mais visibilidade ao extrativismo e à diversidade desse bioma. Amazônia, diversidade, natureza e sociedade será o tema, e o projeto já recebeu 44 cartas de apoio de diversas organizações, como Embrapa, ICMBio, MST, dentre outras. Um dos objetivos é a participação da juventude como protagonista, e visibilizar a diversidade alimentar, cultural e racial da região.
Segundo Tatiana Sá, da EMBRAPA, que apresentou o projeto da candidatura de Belém como sede do próximo CBA, apenas R$ 80 milhões dos R$ 8 bilhões destinados no Plano Nacional de Agroecologia atendem os extrativistas. “É o momento de perceber a emergência dos agricultores na Amazônia, que nem sempre são iguais a outras regiões. Temos águas, extrativismos, combinações extremamente ricas, povos indígenas e populações tradicionais que precisam ter mais forca na agroecologia no Brasil. Sediar pela primeira vez nessa região, aproveitar a proliferação de cursos, universidades novas, ampliar esse leque de possibilidades. Ter maior participação da Amazônia na construção do conhecimento agroecológico, o evento para catalisar e favorecer, ampliar os diálogos inter-regionais, contribuir na construção da Planapo em relação a diversidade do país. Além de ampliar o quadro social da ABA na região norte”, defendeu.