Comida saudável, afeto, ancestralidade e diálogo são ingredientes dessa transformação: conheça experiências de sucesso construídas por jovens em todo o Brasil
Primeira Oficina de Sistematização do Projeto – Belém 2015
Eles são mais de 170, vindos de todas as regiões do País, já começam a chegar ao Distrito Federal para participarem do I Encontro Nacional de Núcleos de Agroecologia, que se inicia hoje (8) e vai até o dia 11 de setembro, no Centro de Formação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em Luziânia (GO). São jovens de vários Núcleos de Agroecologia (NEAs), muitos deles estudantes universitários e ao mesmo tempo agricultores e agricultoras agroecológicos que têm como missão promover um diálogo de saberes capaz de aproximar ensino, pesquisa e extensão. Essa é uma das principais propostas dos NEAs apoiados, desde 2010, pelos editais públicos construídos pelo CNPq, em parceria com diferentes ministérios.
“Como fortalecer essas experiências agroecológicas?” Foi essa a pergunta que inspirou a caminhada do projeto animado pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) desde 2010. Foram mais de 24 meses, 27 municípios visitados, muitos dias de viagem e uma equipe multidisciplinar rodando o país. No roteiro dessa turma, experiências que fortalecem as práticas de famílias agricultoras. Entre idas e vindas, diversas oficinas de sistematização participativas, que cruzaram o caminho de muitas e muitos jovens que vem construindo outra forma de fazer ciência.
Ciência e Juventude
Ana Cláudia participante do I Encontro Nacional de Núcleos
Um desses encontros felizes foi com Ana Cláudia Rauber, do Paraná. Com 28 anos, Ana e seus pais têm uma pequena propriedade agroecológica em Cantagalo, município com pouco mais de 13 mil habitantes, onde cultivam verduras, legumes, fruteiras, erva-mate e amendoim. “Sou camponesa, ecologista e feminista”, se apresenta, com orgulho.
Ana fez mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Federal da Fronteira Sul, no Campus Laranjeiras, que funciona dentro do Assentamento 8 de junho, próximo de sua casa. Foi lá que conheceu o Núcleo de Estudos em Agroecologia de Cantuquiriguaçu e se deu conta de que é possível fazer ciência de outro jeito. “Hoje construímos conhecimento junto com os agricultores”, conta ela, feliz de estar em um espaço onde a distância entre as cadeiras universitárias e o campo foi rompida. “O papel dos Neas é levar o conhecimento até as comunidades, em um processo de troca de saberes. Muitas vezes a pesquisa não chega, fica retida na própria universidade”.
Poder estudar e ao mesmo tempo cultivar os alimentos agroecológicos para Ana é algo muito precioso. “Foi na terra que resgatei a identidade de agricultora e hoje sou feliz com o que faço”. Ana chegou a ser professora do ensino fundamental na área urbana, mas percebeu que poderia ser mais feliz trabalhando na terra e com as agricultoras e agricultores dos assentamentos.
Agroecologia também é cultura
No Pará, os caminhos percorridos pelas oficinas chegaram até Diego Urubatan Andrade de Alcântara, 25, um apaixonado pela cultura amazônida, especialmente pelo Carimbó paraense.
Diego e o grupo de Carimbó
Diego participa do Núcleo de Agricultura Familiar e Agroecologia de Capitão Poço, que tem como um dos objetivos promover o resgate da cultura regional. “Porque agroecologia também é cultura”, diz o estudante do 9º período de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia (Pará). “O jovem, quando passa a se envolver com sua cultura, se torna mais crítico de seus processos sociais. A cultura nos dá força para enfrentar o racismo, a homofobia, e o machismo que nos rodeia”.
Com suas danças e poesias, o Núcleo de Capitão Poço tem feito toda a diferença no resgate das identidades e da cultura popular nos municípios de Capitão Poço, Iritua e Garrafão do Norte.
Comunicar para Transformar
Pedro Nascimento e as oficinas de comunicação e agroecologia
No Piauí, os caminhos dos núcleos chegaram a Lagoa de São Francisco, região norte do Estado. É lá que mora o comunicador popular Pedro Paulo Nascimento, 21. “A gente se preocupa em fazer comunicação com a comunidade. A gente vê, por exemplo, muitos quintais agroecológicos implantados e produzindo, sendo que a própria comunidade onde essas ações acontecem ainda está longe de saber como isso funciona. Qual é o papel de um quintal produtivo desse? É preciso mostrar o valor desse agricultor que não usa o agrotóxico. Se não tiver a comunicação para levar essa informação, não funciona, é fazer um trabalho em vão”.
Embora não atue diretamente no Núcleo de Agroecologia Cajuí, Pedro contribui com o trabalho por meio das oficinas de comunicação popular que realiza, em parceria com o NEA e com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). “Há cada família que a gente fala sobre a agroecologia, se pelo menos 10 passarem a produzir dessa forma, é um grande avanço”. Hoje, além de editar um jornal comunitário, também ajuda na programação da Rádio Comunitária Boa Nova FM, uma emissora popular que fala de agroecologia, agricultura e juventude.
O Encontro
Todas essas histórias se reúnem no I Encontro Nacional dos Núcleos de Agroecologia, em Luziânia. De lá, ganharão espaço no Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que acontece de 12 a 15 de setembro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. No congresso Diego, Ana Cláudia e outros milhares de jovens apresentarão suas experiências que constroem uma nova ciência no Brasil.
Para saber mais acesse:
http://aba-agroecologia.org.br/wordpress/encontro-nacional-dos-nucleos-de-agroecologia/
Projeto de Sistematização de Experiências: sistematiza.aba@gmail.com
Facebook do Projeto: https://www.facebook.com/sistematizacaodeexperiencias/
Texto: Maria Clara Guaraldo, Natália Almeida e Rodrigo Avelar
Fotos: Leonardo Melgarejo e arquivo pessoal dos entrevistados
Cobertura Colaborativa do Coletivo de Comunicação Mídia Crioula
Rodrigo Avelar – 31.98627-2718
Eduardo Di Napolli – 24.99273-6031
Muriel Duarte – 11.99877-3800
Maria Clara Guaraldo – 61 98183 6824