A parceria entre ABA, ANA e Fiocruz promove lançamento de publicação e instalação artística pedagógica permanente sobre os Núcleos de Agroecologia
A organização de uma agenda institucional em Saúde e Agroecologia na Fundação Oswaldo Cruz é resultado de um processo histórico de lutas sociais e construções solidárias em torno da defesa de direitos humanos relacionados à alimentação, à educação pública, gratuita e de qualidade, ao saneamento, à preservação ambiental, ao trabalho digno, ao direito à terra e à cidade. Saúde como direito de todas e todos.
Passa pela conquista do Sistema Único de Saúde (SUS), na dimensão de um projeto ético-político civilizatório, como dizia Sérgio Arouca. Passa pelo avanço da consciência ambiental, de que é possível produzir, ter uma vida digna e conservar a floresta, como falou ao mundo Chico Mendes. Passa por compreender que está tudo conectado e que a saúde das pessoas depende de alimentos saudáveis, que por sua vez depende de solo sadio, como nos ensinou Ana Maria Primavesi.
Passa pelo reconhecimento de que o fenômeno da fome é um problema político, resultado de desigualdades e iniquidades sociais, que tem na concentração de terras uma de suas raízes, como comprovou Josué de Castro. Passa por Betinho, por Rachel Carson, por Dona Dijé, e por tantas e tantos. Passa pelo reconhecimento e valorização de inúmeras experiências comunitárias, no campo, na floresta, nas quais e nas cidades, que no seu cotidiano promovem territórios sustentáveis e saudáveis. Passa pela conquista de um conjunto de políticas públicas coerentes com esse caminho.
Na trajetória das ações tecidas em parceria, é imprescindível destacar o I Encontro Nacional de Diálogos e Convergências, evento animado por diversas redes da sociedade civil e realizado em 2011, em Salvador (BA), a partir da interação entre organizações e movimentos sociais, onde companheiras/os da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fiocruz estiveram ativamente presentes.
Com a configuração interna na Fiocruz da agenda “Saúde e Agroecologia”, em 2017, essa simbiose entre as redes ganha novos contornos e, mais recentemente, cabe destacar aqui três iniciativas nesse mosaico de ações desenvolvidas em conjunto entre a ANA, a ABA-Agroecologia e a Fiocruz: 1) a participação no IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA)de um conjunto de trabalhadores/as da Fiocruz que se envolveram na construção de uma série de atividades, em maio de 2018; 2) a reestruturação da plataforma do “Agroecologia em Rede”, um sistema de informações sobre experiências em agroecologia que passa a intensificar esforços para identificar as conexões entre saúde e agroecologia em experiências e redes territoriais e 3) a realização do I Encontro Diálogo e Convergências em Saúde e Agroecologia, no quilombo do Campinho da Independência (Paraty/RJ), em novembro de 2018.
Na décima primeira edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia, além de outras ações em parceria com o Grupo de Trabalho de Saúde e Agroecologia vinculado à ABA, a participação da Agenda de Saúde e Agroecologia se expressará em duas atividades principais: o lançamento da Coleção de Cadernos de Estudos e a Instalação Artística-Pedagógica dos NEAs. Abaixo detalhamos as duas iniciativas e, em seguida, apontamos a identificação dessas atividades na programação do Congresso.
Coleção Saúde e Agroecologia
A construção dessa agenda passa ainda pela aproximação crescente e trabalho conjunto entre os campos da Saúde Coletiva e da Agroecologia, pelo reconhecimento de dezenas de experiências em agroecologia desenvolvidas na Fiocruz e por muitas no setor saúde, de norte a sul deste país. Passa pela necessidade de aprofundarmos os estudos e as reflexões sobre as contribuições da ciência e das políticas públicas nesta construção. Passa pelo compromisso de fortalecer ações articuladas entre diferentes áreas do campo da saúde, como de ambiente, atenção e promoção da saúde, enquanto contribuição coerente também com a Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030.
A publicação Caderno de Estudos em Saúde e Agroecologia faz parte dessa agenda que vem sendo elaborada e desenvolvida em cooperação com a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e com a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia). Abrimos esta coleção reunindo um artigo e três relatórios científicos até então inéditos em português. Estão embasados em centenas de pesquisas sobre os sistemas alimentares atuais. Em linguagem acessível oferecem bem mais que dados, informações e evidências. São um convite ao exercício de novas formas de pensar sobre saúde e agroecologia e, sobretudo, novas relações de poder.
O Agroecologia em Rede
A ferramenta que nasceu em 2002 para olhar “tecnologias alternativas”, já foi um “banco de tecnologias apropriadas” e acabou se firmando como uma plataforma de catalogação de experiências pelos sujeitos que as protagonizam, começou um novo ciclo em 2018 e neste XI CBA, o AeR colhe novos frutos.
Nessa travessia para seus 18 anos, está prestes a viver um novo salto. Talvez o maior até então. Ir além de uma ferramenta de identificação de iniciativas e oferecer atividades chave no campo da tecnologia de informação e comunicação que apoiem os processos de construção, articulação e sistematização das redes nos territórios.
Para construção desse salto está aberto um diálogo com uma dezena de iniciativas de mapeamento que surgiram nos últimos anos. Além da consolidação da parceria entre a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para que o AeR possa representar a sinergia entre “Saúde e Agroecologia”.
Desta vez, em Sergipe, vamos partilhar os resultados gerados a partir de uma primeira experiência de coleta de dados de campo. A plataforma do Agroecologia em Rede inaugura um novo sistema de coleta de informações, criado a partir de um software livre, que pode ser usado em qualquer aparelho e não depende da conexão com a internet. A proposta foi disponibilizar uma ferramenta que sustente de forma colaborativa e solidária a partir do uso pelo movimento agroecológico, com estrutura permanente de gestão, comunicação e suporte.
O Mapa dos Núcleos de Agroecologia: redes, vínculos e práticas
E quem movimenta e colore os primeiros testes de uso deste novo sistema são os Núcleos de Agroecologia (NEAs). Os NEAs são espaços de diálogo e de exercício da indissociabilidade entre pesquisa-ensino-extensão em agroecologia. No Agroecologia em Rede, os NEAs são considerados “dispositivos” de construção e socialização coletiva de conhecimentos agroecológicos vinculadas a instituições de ensino, pesquisa ou extensão e em constante e permanente interação com a sociedade. Na compreensão da ABA-Agroecologia, os NEAs extrapolam a compreensão de projetos apoiados pelos editais fomentados pelo governo federal, entre 2010-2016, e compreendem também os grupos, coletivos e redes que atuam na perspectiva descrita acima ainda que de maneira informal.
PROGRAMAÇÃO
Segunda | Dia 04 de novembro
Roda de Conversa Simultânea | 14h30-16h30 na Tenda Samba de Roda
Desafios e conquistas na construção de tecnologias livres de fortalecimento da agroecologia – Alan Tygel/Rosana Kirsch/Fábio Piovan/Vinicius Brand (EITA – Cooperativa de trabalho, Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão)
Terça | Dia 05 de novembro – Lançamento da Coleção Saúde e Agroecologia às 18h30 no Auditório da Reitoria
Casa dos NEAs | Instalação Permanente no XI CBA – A Casa dos NEAs será um ambiente de interação agroecológica permanente no XI CBA. Trata-se de um espaço de acolhida, integração e realização de atividades, reuniões e rodas de conversa sobre os Núcleos, sobre educação em agroecologia e outros assuntos relacionados ao seu fortalecimento enquanto ciência, movimento e prática a partir da integração e indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O convite é para que os NEAs tragam materiais, sementes, fotos, bandeiras e outros elementos que simbolizem as práticas desenvolvidas nos territórios. Este será também o ambiente de construção do Mapa dos NEAs no Brasil. Uma instalação criada a partir dos bordados e inspirada nos eixos temáticos do Congresso. Sua construção teve como alicerce a colheita, coletiva e descentralizada, construída a partir do novo sistema de coleta de dados da plataforma Agroecologia em Rede.
Horário de funcionamento: das 9 às 17 horas de segunda à quinta-feira. Local: Geodésica – Praça da Democracia (próximo a reitoria da UFS)