A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) manifesta apoio institucional à professora e pesquisadora Dr.ª Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), que vem sofrendo ameaças por estudar e divulgar pesquisas sobre contaminação ambiental por agrotóxicos no Brasil.
As ameaças se manifestam por diversas formas de violência, tais como tentativas públicas de descredibilizar e deslegitimar seu trabalho, assédio institucional e intimidações, através de instituições relacionadas ao agronegócio. Elas começaram a ser mais frequentes desde a publicação do “Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” em 2019, resultado de seu pós-doutorado. Essas violências, incluindo as psicológicas, se relacionam ao setor econômico e político envolvidos com o uso, divulgação, incentivo e muito lucro com o comércio de agrotóxicos no país.
Larissa M. Bombardi, há anos é professora e pesquisadora brasileira extremamente competente que vem contribuindo com o pensamento crítico e com a formação qualificada de profissionais de várias áreas, desde a geografia, humanidades, passando pelas ciências agronômicas, até o campo da saúde, principalmente a ampla área da saúde coletiva. Desenvolve reconhecidos trabalhos de pesquisa, que envolvem a divulgação das contaminações por agrotóxicos nos territórios e os riscos que esses produtos impõem à saúde humana e ao meio ambiente. Seu trabalho é fundamental para repensarmos as relações econômicas, ambientais e de construção da agroecologia no país, além de contribuir para a efetivação do direito à saúde e do direito humano à alimentação adequada, que atualmente se encontram em situação de violação. Em virtude deste quadro de perseguição, a professora Larissa neste momento se vê forçada a deixar o país em função das violências que vem sofrendo.
As práticas de perseguição a pesquisadoras/ pesquisadores, que apresentam evidências de atentados contra a vida humana, ao ambiente e à alimentação saudável e adequada não é recente. Apesar de se mostrarem mais explícitas na conjuntura social e política atual devido à guerra cultural contra intelectuais e cientistas presente nas redes sociais, funcionam como uma “metodologia” já conhecida. Desferida por grupos extremistas a cientistas cujo trabalho traz questionamentos a dinâmicas econômicas e políticas dominantes.
Outros pesquisadores/pesquisadoras brasileiras também vêm sofrendo perseguições, ameaças, assédios, que também se manifestam como violências psicológicas, além de processos judiciais e campanhas de desqualificação dos resultados de pesquisas científicas ou de dados que vão contra seus interesses. As ameaças pessoais contra Larissa Bombardi são formas antidemocráticas e anticientíficas de encarar os problemas das práticas insalubres e insustentáveis da produção agroindustrial do país. Representando também violências contra todas as pesquisadoras/pesquisadores e a própria ciência, ferindo o direito à liberdade de pesquisa, ensino e comunicação à sociedade sem conflitos de interesses.
Um país autônomo e próspero somente pode existir em condições democráticas, de livre pensamento e ciência autônomos. Em vista disso, a ABA-Agroecologia reafirma o apoio e solidariedade à Professora Dra. Larissa Bombardi, bem como a toda(o)s a(o)s pesquisadora(e)s que se encontram nesta mesma situação, como forma de reafirmar o compromisso coletivo pela agroecologia, um sistema alimentar sustentável e saudável, que dispensa do uso de agrotóxicos para seu funcionamento, em nome da vida e dignidade humanas.
Grupo de Trabalho sobre Agrotóxicos e Transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia)