As Comissões do XII CBA Sudeste mobilizam oficinas de escrita científica espalhadas pelo Brasil e promovem a difusão de ferramentas que ampliam o fazer coletivo da ciência da agroecologia.
No mesmo momento em que um coletivo de mulheres no sul de Minas Gerais está recontando a história das roças tradicionais, uma comunidade indígena no Norte do Brasil coleta sementes sagradas ancestrais e, na periferia de São Paulo, hortas urbanas nascem em contraponto à falta de acesso a alimentos de qualidade a preços acessíveis. O que essas experiências têm em comum? Todas elas convergem em uma pauta: a agroecologia como bandeira de luta e enfrentamento dos desafios, em busca da coletividade e do bem comum. Também podemos falar que, ao mesmo tempo, há especialistas dentro de laboratórios certificando a qualidade de sementes crioulas e lutando contra os agrotóxicos no prato da população, bem como nos territórios construindo processos e métodos científicos participativos que promovem a agroecologia e fortalecem o conhecimento local.
Fazer com que essas e milhares de outras ações práticas que acontecem nos territórios nos quatro cantos do Brasil sejam colocadas no “papel” ou então em um relato de vídeo, mostrando a diversidade que há no campo agroecológico, é a missão do Projeto “CBA em movimento: Oficinas de Escrita Científicas Regionais”, parte dos processos preparatórios rumo ao XII Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). Tudo isso faz parte da grande tarefa de construir uma ciência que realmente esteja na boca do povo e que seja cada vez mais acessível. E, para isso, está acontecendo de forma online ou presencial uma série de encontros que ensinam e espalham a importância do fazer coletivo e colaborativo da escrita científica, uma estratégia de “fazer junto” e de contrapor o discurso hegemônico que afasta as pessoas da academia.
O Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), promovido pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), é referência acadêmica sobre o tema na América Latina, tanto por sua dimensão e abrangência multi territorial, quanto por sua proposta metodológica inovadora. Pautado por epistemologias críticas que reconhecem a centralidade da articulação entre ciência e diferentes saberes e práticas populares, o CBA se insere em um processo voltado à construção de novos paradigmas teórico-metodológicos.
O CBA chega em sua 12a edição impulsionado pelas redes de agroecologia dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, nas quais atuam instituições de pesquisa, ensino e extensão, movimentos sociais e distintos grupos e coletivos da sociedade civil. O congresso será realizado entre os dias 20 e 23 de novembro de 2023, na cidade do Rio de Janeiro.
CBA é uma colcha de retalhos que convida todas, todes e todos a participar
“O CBA é um lugar de encontro da diversidade e da transdisciplinaridade. No CBA as gerações se encontram: de criança a anciãos/ãs; no CBA as diferentes disciplinas do conhecimento científico se encontram; no CBA o saber científico se encontra com o saber popular; no CBA os povos tradicionais, os jovens, os cientistas, as crianças, os agricultores/as familiares camponeses/as se encontram para aprender um com o outro/a; no CBA os movimentos sociais se encontram para que todos saiam com coragem, força e animados para lutar pela transformação dos sistemas agroalimentares e para construir o bem viver para todos os seres”, convoca Irene Cardoso, pesquisadora, ativista do movimento agroecológico e ex-presidenta da ABA.
Irene reforça também a diversidade e a relevância da cultura como eixo transversal a toda a organização do evento. “Tem expressões artísticas, alimentação de qualidade, feira, troca de sementes, tenda dos cuidados, espaços específicos para o cuidado com as crianças, etc.”, salienta a pesquisadora sobre a multidisciplinaridade presente do começo ao fim dos processos que envolvem este congresso.
Mobilizar, apresentar e multiplicar
“As oficinas são também uma forma de mobilizar para o Congresso, uma vez que, elas criam momentos de divulgar e apresentar para as pessoas a proposta do evento, junto com as datas e agendas”, pontua Lorena Portela, da Agenda de Saúde e Agroecologia da Fiocruz e integrante da Comissão de Comunicação, Cultura e Arte do CBA. Ela ressalta, sobretudo, que durante esses encontros, além de convidar mais pessoas a participar, cria-se também uma estratégia para democratizar a ciência e possibilitar que as mais diversas pessoas possam submeter trabalhos. Tudo isso integra uma rede de produção de conhecimento e de compartilhamento de trabalhos entre todas as experiências.
A proposta do “CBA em movimento” nasce do compromisso da ABA-Agroecologia de compreender a realização de seus Congressos a partir de uma constelação de iniciativas de mobilização nos territórios. Desde o CBA de Belém (PA), em 2015, a ABA-Agroecologia vem experimentando diferentes iniciativas e processos de preparação e articulação prévia em torno da agroecologia com o objetivo de ampliar a participação de diferentes sujeitos no Congresso, qualificando as atividades que movem sua programação.
Por que enviar um resumo ou relato para o CBA?
Com relação à importância da formação em escrita científica nos processos preparatórios para o XII CBA, Irene Cardoso, pesquisadora, ativista do movimento agroecológico e ex-presidenta da ABA pontua três itens fundamentais:
- Muitos jovens iniciam sua carreira acadêmica enviando trabalhos para congressos. Sabemos que a escrita científica possui seus desafios. Então, contribuir com a formação para a escrita científica é contribuir com a formação dos jovens para a atuação na dimensão científica da agroecologia;
- Ao desenvolver processos formativos para a escrita científica, estamos, na verdade, contribuindo para a formação de todos para a compreensão da dimensão científica da agroecologia, de acordo com os princípios da ABA;
- No processo de se preparar para a escrita científica, apostamos no envio de resumos de mais qualidade, o que favorece o processo de revisão. A princípio, não queremos rejeitar resumos. Queremos receber bons resumos e aceitá-los, pois o CBA é um lugar de encontro de todos e todas e, por isto, queremos incluir o máximo de pessoas possível. Entretanto, se os resumos não forem de boa qualidade, temos que rejeitar.
E aí, depois de ouvir o recado dessa grande ativista histórica da agroecologia brasileira, quer saber como fazer para não ficar de fora do XII CBA?
Envie um trabalho para qualificar sua participação e facilitar as trocas de conhecimentos e saberes. Há quatro modalidades de envio, sendo elas resumos científicos; resumos sobre experiências acadêmicas, resumos ou vídeos sobre experiências populares. Cada uma das modalidades tem regras próprias que estão detalhadas no site do congresso.