Por Angélica Almeida | Edição: Luiza Damigo, Caru Dionísio, Maria Sol
O “coração” do Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA): assim são definidos os Tapiris de Saberes. Esta palavra simpática, nunca antes tão falada e ouvida nos corredores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), é originária do norte do Brasil e muito presente no vocabulário das populações ribeirinhas. Tapiri é palhoça, o lugar onde as pessoas se reúnem para dialogar e também descansar.
A expressão, adotada pela Associação Brasileira de Agroecologia desde a construção do IX CBA em Belém, significa no Congresso o ambiente de encontro entre diferentes saberes, de onde pulsam ricas discussões trazidas de todo o Brasil e sob diferentes perspectivas: trabalhos científicos, relatos populares, inclusive no formato de vídeo, e experiências técnicas.
Aprimorar o diálogo entre os diferentes modos de produção de conhecimento foi um dos desafios assumidos neste XI CBA, que traz como lema a Ecologia de Saberes. Como explica José Nunes, membro do GT Campesinato e Soberania Alimentar da ABA-Agroecologia e da Comissão de Metodologia do Congresso, uma das formas de buscar e praticar a Ecologia de Saberes foi incentivar a livre forma de apresentação de trabalhos pelas autoras e autores, em formatos e linguagens como painéis, desenhos, teatro, poesia e música, que oportunizam a participação para além da tradição escrita.
Nesta edição do Congresso, os Tapiris foram construídos dentro da metodologia inspirada na natureza de uma teia de aranha e conta com a importante contribuição das fiandeiras. Elas acompanham os diálogos, trazem uma problematização nos Tapiris e transformam os debates em expressões artísticas como teatro, peças de mamulengo, sambas de coco e em painéis da expressão gráfica.
Nos quatro dias de CBA, estão previstas apresentações de 2100 trabalhos, distribuídas em 73 Tapiris de Saberes, relacionados aos 16 eixos temáticos do Congresso. Novidade trazida nesta edição, 79 relatos populares em vídeo aprovados contam narrativas de famílias agricultoras, povos e comunidades tradicionais, movimentos sociais do campo e da cidade. Esta edição do CBA acolhe também novos eixos temáticos, como a cultura e a comunicação popular.
Outro desafio assumido pelo CBA foi conectar as discussões temáticas, enfrentando a fragmentação e pensando o conhecimento a partir da complexidade do mundo e da realidade. “Para isso, propomos que o produto que sai dos Tapiris, expresso nas diferentes linguagens, se encontre no que a gente está chamando de conferências conjuntas, que é o lugar, por natureza, do debate entre os eixos, na busca de construir cada vez mais interfaces”, conta Nunes. Ao todo, serão realizadas 10 conferências conjuntas, que podem ser conferidas na programação.
O exercício que finaliza a “teia” é a culminância das conferências conjuntas na conferência de despedida. Uma mobilização interessante e inovadora deste CBA foi a proposição de que as e os conferencistas participassem de forma integral do Encontro, para que as discussões avançassem no sentido de totalidade. “Estamos muito felizes com a presença de diferentes colaboradoras/es, que estão desde o primeiro dia dispostos a ficar conosco neste caminho que termina na conferência de despedida e que, com certeza, manterá o mesmo nível de riqueza e de encontro e celebração que tem sido desde ontem na abertura”, comemora Nunes.