Com o lema “Ecologia de Saberes: Ciência, Cultura e Arte na democratização dos Sistemas Agroalimentares”, o XI CBA será realizado em novembro de 2019, em Sergipe
“A agroecologia nos ensina a proporcionar saúde na nossa vida. É por isso que o feminismo anda junto com a agroecologia. Ambos trabalham juntos e proporcionam a saúde de todos, principalmente da família”
(Lia, agricultora da Comunidade de Mata Cães, em Acaiaca – MG)
“Eu plantei a mandioca, eu não joguei agrotóxico na terra, e isso pra mim tem muito valor, porque aquilo que a gente compra, a gente não sabe como é feito”
(Armezinda, agricultora do Assentamento Padre Jesus em Espera Feliz – MG)
“São as mulheres que cuidam da semente, que estão colhendo, plantando. A mulher tem um olhar específico sobre a vida. Ela concede a vida, então ela quer produzir vida”
(Solange, agricultora da Comunidade de Fátima, em Espera Feliz – MG)
“Quando eu comecei a participar do movimento de mulheres, pude ver o tanto que as nossas companheiras sofrem com o machismo, porque ele está praticamente dentro de todas as casas. Eu sou feminista, porque eu trabalho com essa questão de igualdade mesmo”
(Eliete, agricultora da Comunidade de Vargem Grande, em Divino – MG)
Os relatos das agricultoras Lia, Armezinda, Solange e Eliete, abordadas de maneira poética no documentário “Outras Marias”, serviram de inspiração para a realização do encontro de construção para o XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA)* na manhã do dia 19 de dezembro, na Universidade Federal de Sergipe (UFS). As histórias de vida das mulheres, moradoras da Zona da Mata mineira, ecoam caminhadas de autonomia pessoal, econômica e política que se entrelaçam a partir da agroecologia e do feminismo.
Conhecer narrativas de vida é um ato de reconhecer-se no outro – na “outra Maria”. Na sua batalha pela vida, pela família, pelo ganha-pão. E assim, a roda da vida se conecta. “Eu não sei bem porque senti vontade de me somar a esse coletivo, mas algo na agroecologia me convida muito forte a agir. Talvez porque o meu trabalho envolve diagnósticos de impactos relacionados à aplicação de agrotóxicos e a minha angústia nasce da sensação de não saber o que fazer para salvar vidas. Acho que é por isso que me reconheço nas falas das pessoas que vejo no movimento da agroecologia”, destacou Danielle Barros.
O sentimento de se reconhecer na história de vida de outro ser humano foi destacado como a mola propulsora para o encontro de preparação coletiva do XI CBA realizada na UFS, com a presença de estudantes, professoras e professores, pesquisadoras e pesquisadores, funcionários públicos e representantes de comunidades camponesas que seguem na batalha por uma vida em sociedade com saúde e justiça social.
A roda de conversa foi conduzida pela comissão local do XI CBA a partir de diálogos sobre a importância da agroecologia para o bem-viver e dos princípios que nos convidam ao fortalecimento dos saberes tradicionais no manejo da terra, no cultivo do alimento, nas relações humanas e no cuidado de si para o cuidado da outra e do outro.
Em seguida, a comissão local do XI CBA discorreu sobre as comissões para a construção do evento e as atribuições de cada uma: Infraestrutura e Logística; Metodologia; Técnico-Científica; Captação de Recursos e Parceria e Comunicação, Cultura e Arte. “É sempre importante ressaltar que nos dividimos em comissões para dar agilidade a demandas mais específicas para o evento, mas essas comissões trabalham em diálogo, parceria e harmonia. O tom dos trabalhos é dado justamente pela ausência de hierarquias e pela coletividade dos processos”, destacou Edson Diogo, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e um dos coordenadores do XI CBA.
Na oportunidade, as pessoas presentes puderam solucionar suas dúvidas e se sentirem motivadas a se inserir no fortalecimento da agroecologia, tendo como horizonte a realização do XI CBA. A partir desse momento, as comissões de trabalho do congresso passam a ficar mais recheadas, de gente e de muito trabalho, mas também de sonhos coletivos.
*O XI CBA, que tem como lema “Ecologia de Saberes: Ciência, Cultura e Arte na democratização dos Sistemas Agroalimentares”, será realizado entre os dias 4 e 7 de novembro, na Universidade Federal de Sergipe (UFS), mas o processo de preparação já está a todo vapor. Para se inserir nessa construção, entre em contato com o Núcleo de Agroecologia do seu Estado, com um dos Grupos de Trabalho da ABA ou com a própria comissão local em Sergipe. Reúna seus pares, fortaleça as redes de agroecologia e faça parte dessa grande caminhada.