“Nossa busca é por uma reforma agrária diferenciada que respeite nossa tradicionalidade e identidade. Não é brigar pela terra, mas obter o reconhecimento de que estamos lá”. Com uma fala questionadora e incisiva, a vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas Edel Moraes fechou o seminário Territórios e Territorialidades: quais as questões?, que lotou o Auditório Taperebá na manhã do segundo dia do CBA. Com a mediação de Roberta Coelho, do Instituto Federal do Pará, a mesa reuniu também Alfredo Wagner, professor da UFAM, e Flávio Barros, do Núcleo de Ciências Agrárias da UFPA.
A falta de diálogo entre os ministérios do Meio Ambiente e da Justiça no estabelecimento de Unidades de Conservação e de compreensão sobre práticas dos povos e comunidades tradicionais foram algumas das questões levantadas por Barros. Ao justificar a ausência de Ramiro Belmiro, da Resex Riozinho do Anfrisio (PA), ele alertou para a violência sofrida por líderes extrativistas.“Ele não pode estar presente porque a casa do seu filho acabou de ser incendiada”, denunciou.
Falando a partir do ponto de vista das populações extrativistas, Edel Moraes questionou palavras e categorias atribuídas a estas comunidades.
“Chamam-nos ribeirinhos, mas sem perguntar-nos se queremos ser chamados assim”, provocou. Para Edel, o pensamento de que o Brasil está dividido apenasem campo e cidade é equivocado, pois exclui os povos das florestas, das águas, do cerrado. Em consonância com Barros, ela também criticou a deturpação da gestão controlada das Reservas Extrativistas, que muitas vezes não consideram as especificidades e práticas tradicionais das comunidades. “Buscamos a autogestão de territórios de uso coletivo, sem patrão nem tutela estatal”, afirmou a vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas.
Carú Dionísio – Jornalista – Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo)