ABA e Comissão Local de Sergipe organizam I Seminário Regional para
planejar coletivamente o próximo congresso
Na construção e na luta por uma ciência popular que dialogue com os desafios do campo e na cidade nos encontramos e partilhamos experiências. Esta foi a energia que circulou durante o “Seminário de Pesquisa e Políticas Públicas em Agroecologia”, realizado na tarde do dia 23 de agosto na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e organizado pela Rede Sergipana de Agroecologia (RESEA) e Comissão Local do XI CBA, como atividade de abertura do Seminário Regional de Construção do XI CBA. Garantir espaços de reflexão e apontar caminhos para seguirmos construindo a agroecologia nos territórios foram alguns dos objetivos do encontro.
Com a participação de diversos coletivos, agricultoras e agricultores da região Nordeste, Núcleos de Estudo em Agroecologia, instituições de ensino, pesquisa e extensão, representantes dos movimentos sociais realizou-se o I Seminário Regional para construção do XI CBA, que encerrou suas atividades acompanhando a Romaria da Terra no município de Canhoba, no dia 26, domingo.
Como cantou Dona Josefa, guardiã de sementes e histórias do Quilombo Sítio Alto, no município de Simão Dias (SE): “Põe a semente nas mãos de quem semeia. Põe a semente na mão do semeador. Põe a semente na terra, A semente nasce e cresce na mão do trabalhador”
A arte e a cultura popular: a força e a sensibilidade do nordeste
O grupo sergipano de teatro Raízes Nordestinas deu início a segunda parte do I Seminário Regional e anuncia: com muita cultura, este será um congresso popular! Nos dias 24 e 25 de agosto cerca de 100 pessoas de toda a região nordeste, de instituições de ensino-pesquisa-extensão, Núcleos de Agroecologia e diversos movimentos sociais do campo e da cidade se encontraram no espaço Recanto Franciscano, no bairro do Mosqueiro, em Aracaju/SE, às beiras do Rio Vaza Barris.
Inspiradas e inspirados pela história do Vaza Barris, que nasce no sertão da Bahia e corre por 450 km até desaguar no oceano Atlântico e banhar o litoral sergipano, demos início ao desenho do próximo Congresso Brasileiro de Agroecologia, que terá sua culminância em novembro de 2019 em Sergipe. O rio traz em suas águas a luta popular travada em Canudos (1896-1897), liderada por Antônio Conselheiro com a participação de milhares de sertanejas e sertanejos que exigiam melhores condições de vida e acesso a terra, contra as oligarquias locais.
Durante os dias 24 e 25 sonhamos e tecemos, a 160 mãos, os objetivos do CBA do Nordeste. Os sonhos se materializaram em nosso planejamento de ações nos territórios, trazendo os anúncios e denúncias, mobilizando os processos preparatórios e fortalecendo as práticas agroecológicas locais como pontos de partida para construção descentralizada, plural e solidária.
Foram apontadas seis comissões para seguirmos na construção do XI CBA: Administração; Infraestrutura e Logística; Técnico-Científico; Captação de Recursos e Parcerias; Metodologia e Comunicação, Cultura e Arte. O momento de colheita de sugestões e inspirações é fundamental e potencializa nossa criação conjunta, acolhendo a diversidade de expressões, temas e formas de trabalhar em coletivo.O lema e objetivos do congresso serão divulgados em breve, assim como os próximos passos!
Processos preparatórios territoriais
Cada pessoa retorna ao seu território com um compromisso próprio, socializado em um grande círculo ao final do dia 25. Cultivar os alimentos que serão partilhados, organizar a feira, fortalecer processos locais, construir uma comunicação colaborativa, fortalecer a participação das mulheres, construir cirandas, garantir trocas de sementes são apenas alguns dos compromissos e sentimentos partilhados ali. Dessa roda de avaliação, que aproximou sonhos aos passos que daremos em cada território, seguimos em cortejo com mestre Diô e suas companheiras do Coco do Mosqueiro, ocupando as ruas de Aracaju, às margens do resistente Rio Vaza Barris.
Como traz a I Carta Convocatória, lançada após ao IV Encontro Nacional de Agroecologia, “entendemos que esse é o momento histórico de impulsionarmos a construção da Agroecologia enquanto movimento, prática e ciência. Uma ciência do campo da complexidade, que partindo dos conhecimentos dos povos indígenas, comunidades tradicionais e da agricultura camponesa, compreende princípios e avança numa construção coletiva, democrática e a serviço da sociedade, num profundo diálogo de saberes.” Para acessar a carta na íntegra clique aqui.
Até novembro de 2019, momento de culminância do XI CBA, teremos 14 meses de trabalho, com ações descentralizadas por todo o país. É a força e resistência da Agroecologia que torna este sonho possível, embalada pela cultura popular e presença do povo nordestino, que colore e alegra os lugares por onde passa!
E, como não poderia ser diferente, terminamos partilhando mais um presente em forma de cordel, produzido no calor dos ventos de Aracaju.
Confira ainda o álbum de fotos do I Seminário Regional de Construção do XI CBA aqui.
“Matutando o CBA
Chega pra cá minha gente
Convida a companheira
Juntamos os movimentos
Presentes na caminhada
CBA 2019
Aqui foi dada a largada
As nossas experiências
Servem para nos ensinar
Aprendemos com o ENA
Que fizemos em BH
Com os CBAs anteriores
Brasília e Belém do Pará
Valorizando os saberes
Da cultura popular
Dos indígenas e quilombolas
Nos ajudam a caminhar
Fortalecendo a agroecologia
Pra os povos empoderar
Foi através da resistência
Que chegamos até aqui
Disputando os territórios
Pra podermos existir
Um mundo agroecológico
É o que queremos construir
O CBA será um sucesso
Eu sei bem como é que é
Nós temos o principal
Que é a força da mulher
De camponeses, da juventudes
A todos força e saúde
Plantemos no povo essa fé
A mística da agroecologia
É coisa que a gente vive
Os sonhos aqui sonhados
É preciso que os cultive
Sigamos nessa construção
Fazendo a revolução
E gritando Lula Livre!”
Maicon Catingueiro, cordelista e da Rede Paraibana de Núcleos de Agroecologia
Fotos: Priscila Viana