Enquanto crescem os incentivos e as áreas plantadas de commodities de exportação e de matérias-primas para biocombustíveis, são reduzidas as possibilidades de sobrevivência sustentável de comunidades tradicionais e agricultores familiares. Esta foi a tônica da mesa “O Avanço do Agronegócio e seus Impactos na Soberania Alimentar”, que reuniu representantes da Embrapa e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) na manhã desta terça-feira (29) durante o CBA.
O aumento do uso de agrotóxicos, a contaminação e restrição ao acesso de recursos naturais e o empobrecimento da base alimentar de agricultores, extrativistas, povos indígenas e ribeirinhos foram alguns dos custos socioambientais apontados pelos painelistas. “O avanço do agronegócio promove um processo de desterritorialização de povos que mantêm não só uma grande diversidade alimentar, mas conhecimentos tradicionais”, apontou André Búrigo, da Abrasco/Fiocruz.
Trazendo dados do último Dossiê Abrasco sobre Agrotóxicos, Búrigo demonstrou o crescimento exponencial do consumo de biocidas no Brasil, principalmente a partir de 2008. Dentre os produtos mais utilizados estão os herbicidas glifosato e 2,4-D, devido principalmente ao aumento das áreas cultivadas com commodities como soja, milho e algodão. Paralelamente, diminuem os plantios de culturas alimentares básicas como arroz, feijão e mandioca. Além deste impacto na segurança alimentar da crescente população brasileira, o representante da Abrasco também alertou para outro efeito da expansão do agronegócio: a contaminação de recursos hídricos, solos e até mesmo do leite materno por agrotóxicos, dando como exemplo o caso de Lucas do Rio Verde (MT), que em 2006 foi massivamente contaminada por pulverizações aéreas de veneno.
“Estamos falando de um jogo de forças entre atores com poderes desiguais”, avaliou a socióloga Dalva Mota, da Embrapa Amazônia Oriental, que também participou da mesa. Apresentando o estudo de caso da expansão do cultivo de dendê voltado a produção de biocombustível no Pará, ela demonstrou como a integração a cadeias produtivas monocultoras coloca agricultores familiares numa situação de insegurança alimentar e subordinação. “Quanto mais os agricultores se especializam, menor a diversidade de cultivos e maior a dependência da compra de alimentos”, afirmou Dalva ao relatar que 70% das empresas que controlam a produção de dendê não permitem que sejam cultivados outros produtos durante os três primeiros anos de contrato. Neste cenário pessimista, experiências de diversificação agroecológica – como o consórcio de dendê com cultivos de pimenta e mandioca em comunidades do interior do Pará apresentadas por Dalva -, despontam como alternativas para assegurar a soberania alimentar e territorial de populações ameaçadas pelo avanço do agronegócio.
Texto e fotos: Carú Dionísio – Jornalista – Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo)