“Todos precisam entender que na floresta tem gente; gente que defende o território, protege a mata e tenta sobreviver, mas ainda é invisível”, afirmou a vice-presidente do Conselho Nacional de População Extrativista, Edel Moraes. A declaração fez parte da primeira mesa redonda do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia nesta segunda-feira (28), que tratou do tema “Amazônia: resiliências e futuros”.
Numa discussão que reuniu inúmeros pesquisadores, estudantes, quilombolas, indígenas, agricultores e agricultoras para discutir acerca do que está acontecendo com a região amazônica e suas perspectivas futuras, Edel Moraes encerrou o debate pedindo mais atenção da sociedade às populações que vivem na região. “Precisamos olhar para a Amazônia e ver gente antes de floresta e animais”, disse.
As exposições tiveram início com o pesquisador Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que iniciou a discussão alertando sobre as constantes mudanças climáticas ocorridas no planeta nos últimos anos. “Enquanto está tudo funcionando não nos damos conta do que está vindo. A situação que vem promete coisas muitos sérias”, afirma.
A situação, segundo ele, é tão complicada que começou afetar os próprios cientistas. “Os cientistas do clima estão procurando aconselhamento psicológico, estão estressados, angustiados, porque se você soubesse que o Titanic está indo na direção do iceberg e o governo não quisesse te escutar, o que você faria? Uma das coisas que eu faria é mudar o discurso.”
Ainda de acordo com o pesquisador, o desmatamento já provoca efeitos no regime de chuvas no Brasil e somente interromper a perda de florestas não resolveria a situação. “É preciso recompor os ecossistemas”, afirma. A esperança, para ele, ainda existe porque há tecnologia para reverter a situação. “Com o uso desses recursos, seria possível reduzir as áreas usadas pela agricultura, aumentar a produtividade e recompor os ecossistemas”, concluiu.
Já o professor Alejandro Salazar, da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia (Socla), apresentou um cenário problemático no campo da agricultura e do uso dos recursos naturais. Por meio de gráficos, ele mostrou que indicadores como população, emissões de gases do efeito estufa, perda de florestas tropicais, turismo, telefone etc. apresentaram crescimento exponencial nas últimas décadas. “A modernidade melhorou a vida, mas estragaram a natureza”, ponderou.
Segundo o professor, a agricultura industrial no mundo emite mais gases do efeito estufa do que todos os meios de transporte, além de consumir 80% da água e produzir apenas 30% dos alimentos. Para Salazar, esse alto consumo dos recursos naturais não pode ser levado adiante e, diante da crise, duas forças surgem em oposição ao modelo hegemônico: as demandas por justiça social e por justiça ambiental.
É nesse contexto que ele vê as ações agroecológicas do campesinato mundo afora como uma esperança de enfrentar as adversidades impostas pelo cenário de mudanças climáticas e crise ambiental. “O campesinato possui uma longa história de domesticação de animais, seleção de material genético e adaptação às dificuldades”, disse.
Juliana Dias – estudante de jornalismo da Universidade da Amazônia (Unama)
Vinicius Braga – MTb 12.416/RS