Diversidade, resistência e a luta dos povos do campo, das florestas e das águas marcam abertura do XI CBA

Realizado em território nordestino, o Congresso Brasileiro dá a largada para dias históricos de encontros, partilhas e, sobretudo, de afirmação de que a agroecologia existe e resiste cada vez mais forte no Brasil

Por Vanessa Cancian

Foto: Saulo Coelho

Os povos do campo, das florestas e das águas, movimentos sociais, coletivos, povos de terreiro, quilombolas, indígenas e muitas outras diversidades do Brasil que cuidam da terra, da agricultura, dos saberes ancestrais já chegaram para o XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (XI CBA). Essas caravanas, vindas de todas as regiões do país, desembarcaram na Universidade Federal de Sergipe e, já na conferência de abertura, mostraram a força que acompanhará os próximos dias de encontro, em uma proposta de diálogo entre conhecimentos populares, ancestrais e científicos.

Foto: Eduardo Napoli

Reforçando que “confiar é tecer com amor”, a acolhida dos povos demarcou a necessidade de reconhecer e valorizar o protagonismo dos diferentes sujeitos sociais que constroem os territórios físicos e simbólicos da agroecologia. Falas institucionais evocaram a importância da articulação e unidade entre povos, governos e universidades, em meio ao atual contexto de violências e violações de direitos.

Foto: Eduardo Napoli

Em uma rede que está e continuará sendo tecida, a chegada nesse território foi feita com o reforço das palavras “amor e confiança”. Falas institucionais e necessárias marcaram a importância da articulação entre o povo, os governos, as universidades e todas aquelas e aqueles que estão aptos e dispostos a construir o caminho desafiador da construção da agroecologia no Brasil.

“Colocamos em evidência o terreiro das inovações e a afirmação da presença do povo camponês no seu lugar de fala e de inserção social. Estamos profundamente preocupados com o avanço dos transgênicos e da contaminação das nossas sementes crioulas em nosso estado de Sergipe e no Brasil”, afirmou Joao Alexandre de Freitas Neto, da Rede Sergipana de Agroecologia (RESEA).

Agroecologia contra o racismo e a lgbtfobia

“Estamos contra o etnocídio em nosso país, contra o feminicídio, e contra o genocídio da juventude negra nas periferias, contra o racismo ambiental que destrói a soberania alimentar”, pontuou Maria Emília Pacheco, da Articulação Nacional de Agroecologia. A presença do povo negro e indígena nos encontros acadêmicos ainda é pequena e o CBA também rema na contramão dessa maré para descolonizar a história e construir uma academia que seja protagonizada pelos movimentos sociais e pelos povos e comunidades tradicionais. “Vemos essa ação em rede e uma Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) revigorada pela força das juventudes em luta contra o racismo e a lgbtfobia”, completou.

“A pesquisa precisa reconhecer e valorizar a população LGBTQI no movimento agroecológico. Que possamos fazer do CBA mais um movimento de fazer insurgência contra o autoritarismo, a injustiça e as diversas formas de violência contra as pessoas e a natureza. Esse é um congresso com a cara dos pesquisadores, em diálogo com camponeses, quilombolas, indígenas, demonstrando a participação do povo do campo, da pesquisa e da inovação”, ressaltou Alexandre Pires, coordenador executivo da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA).


Romier da Paixão, Presidente da Associação Brasileira de Agroecologia e Alexandre Pires, Coordenador Executivo da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA)
Foto: Saulo Coelho

Em seguida, após as falas de uma grande mesa de abertura, todas e todos os participantes foram chamados a se integrar a mística inicial organizada pelo grupo das Fiandeiras e da Pedagogia Griô, com uma acolhida calorosa com música, sementes crioulas, abraços e olhos nos olhos. Na sequência, o grupo de teatro “Raízes Nordestinas”, do município de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano, ganhou a cena e apresentou um espetáculo cheio de história da luta do povo do campo dessa região chamada Nordeste.

Foto: Saulo Coelho

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