Dois anos do GT de Educação em Agroecologia da ABA-Agroecologia

educacao agroecologiaO Grupo de Trabalho de Educação em Agroecologia da ABA foi proposto e formalizado durante o seminário Educação formal em agroecologia, realizado em 2011, durante o VII Congresso Brasileiro de Agroecologia, em Fortaleza/CE.

É composto por associados apresentados nas assembleias da ABA, com representantes que atuam principalmente em instituições de ensino de todas as regiões do país. Busca coordenar as ações sobre o tema, subsidiar os associados de informações relacionadas, e trocar conhecimentos, além de organizar eventos sobre Educação em Agroecologia.

A construção do conhecimento agroecológico vem sendo discutida em parceria com a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) desde 2005, período em que foram realizados três seminários nacionais sobre o tema. A necessidade de se repensar os enfoques teóricos, metodológicos, na pesquisa, ensino e extensão, foi um dos seus objetivos. No que diz respeito às políticas públicas, a ABA constribuiu em dois Fóruns Nacionais de Educação em Agroecologia realizados pela Comissão Intermininsterial de Educação em Agroecologia e Sistemas Orgânicos de Produção. Mais recentemente, tem participado da Subcomissão Temática Conhecimento da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – CNAPO, que faz a gestão do Programa Brasil Agroecológico (Planapo).

Em fevereiro de 2012 ocorreu uma reunião do GT em Brasília, onde foi estruturado o grupo com seus objetivos e dinâmicas. Também foi discutida a realização do I Seminário Nacional de Educação em Agroecologia (I SNEA), que ocorreu em julho de 2013 em Recife (PE) em parceria com o Núcleo de Agroecologia e Campesinato, da UFRPE. . Quase duzentos educadores, estudantes, gestores e representantes de movimentos sociais, organizações não governamentais, dentre outros setores da sociedade, participaram. Profissionais trouxeram novas abordagens para a Educação na construção do conhecimento agroecológico, e houve uma rica troca de saberes com os movimentos da sociedade civil. Mais de sessenta experiências foram apresentadas, e rodas de diálogos aprofundaram algumas reflexões. Ao final foi construído um documento com princípios e diretrizes para orientar as experiências de Educação em Agroecologia no Brasil. O GT vai participar da edição do número sobre Educação, da Coleção Transição Agroecológica da Embrapa/ABA, com os resultados do SNEA.

O incentivo aos Núcleos de Agroecologia nas Universidades Brasileiras foi outro campo de atuação, em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Foi elaborada uma carta, em parceira com a Articulação Nacional de Agroecologia – ANA, entregue ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, sobre a manutenção dos editais do ministério com o CNPq para apoio a esses núcleos. Esse documento foi amplamente debatido em Seminários dos Núcleos de Agroecologia, em 2012.

O VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), realizado em Porto Alegre, no final de novembro de 2013, foi o principal evento da ABA nos últimos dois anos. A Educação foi pautada, após um grande esforço por parte do GT, em diversas atividades e se tornou eixo temático para muitos debates e apresentações de trabalhos científicos. Desde 2003 o número de trabalhos e experiências sobre educação apresentados nos CBA cresceu de 9 para 56. No começo apenas educação ambiental era abordada, e hoje o leque de análises é amplo passando pela formação profissional, educação do campo, educação popular, construção do conhecimento, e a educação ambiental com suas diversas vertentes.

Outros eventos, como palestras e mesas redondas, também contaram com a participação desse GT. Desafios pedagógicos para educação popular, avanços e desafios da formação em agroecologia, educação do campo e educação em agroecologia, princípios e diretrizes de educação em agroecologia, ensino, pesquisa e extensão nos núcleos de agroecologia das universidades, foram alguns dos assuntos abordados.

Os debates realizados no âmbito do GT indicam que uma Educação Formal em Agroecologia não se dá de uma única forma. Na educação profissional e superior, ela pode acontecer em diferentes espaços e processos de ensino, seja nos cursos de Agroecologia ou com ênfase em Agroecologia, ou com enfoque agroecológico (de diferentes níveis educacionais); seja nas disciplinas de Agroecologia e/ou temas correlatos oferecidos em diferentes cursos; seja nas práticas e vivências educativas orientadas pela pesquisa e extensão e pela relação escola-comunidade; seja, também, nas atividades extra-curriculares que enriquecem processos de ensino-aprendizagem em Agroecologia, protagonizadas por iniciativas coletivas, inclusive as dos estudantes. Assim, consta-se que a Educação Formal em Agroecologia não se resume a um “curso ideal”, com currículo e métodos predefinidos.

Muitas destas iniciativas acontecem em instituições populares ligadas aos movimentos sociais comprometidos com novas abordagens metodológicas e com forte relação com a Educação do Campo, a Educação Popular, a Educação Contextualizada e com a Formação em Economia Solidária. Por isso, o GT fez uma aproximação com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) identificando os pontos comuns no que seria uma Educação em Agroecologia com a Educação do Campo.

Outras iniciativas de Educação em Agroecologia procuram romper o enfoque pedagógico convencional caracterizado pelo estilo bancário e pelo paradigma científico-tecnológico da Revolução Verde predominante nas instituições de ensino profissional e superior, criando importantes espaços de resistência e inovação.

No entanto, os debates realizados nos seminários, reuniões e congressos, indicam a necessidade de se repensar as diferentes experiências de Educação em Agroecologia e a qualidade do ensino. Isso requer uma base epistemológica orientada por novas abordagens pedagógicas, metodológicas e técnicas, distintas daquelas que norteiam as ciências agrárias convencionais.

Os princípios da Vida, da Diversidade, da Complexidade e da Transformação propostos no I SNEA para a Educação precisam ser colocados em prática considerando as realidades socioeconômicas e ambientais locais concretas. E a partir do diálogo entre os saberes científico e popular, partindo de uma crítica profunda à visão produtivista e tecnicista da atividade produtiva convencional e do desenvolvimento, e atuando a partir de metodologias orientadas pelo enfoque sistêmico e pela interdisciplinaridade.

Os debates realizados também indicam temas que devem continuar na pauta, como o reconhecimento profissional de agroecólogos e as políticas de ensino, pesquisa e extensão.

Para isso, a ABA a partir do GT Educação, continuará mantendo uma agenda de reflexão e discussão sobre os pressupostos da Educação em Agroecologia nos seus diferentes níveis e modalidades, em parceria com as instituições e grupos interessados. Foi proposto que estratégias de ação para a construção de uma educação de qualidade em Agroecologia deverão ser colocadas em prática em cada espaço educativo e por cada agroecologista comprometido com a Educação.

Os educadores da Universidade Federal do Paraná, campus Litoral, presentes no CBA se comprometeram em articular o II Seminário Nacional de Educação em Agroecologia em parceria com a ABA. Várias experiências educativas, entre elas dos Institutos Federais, têm buscado essa parceria para realizar atividades formativas e pensar como superar os desafios da Educação em Agroecologia. Algumas das caravanas agroecológicas preparatórias para o III Encontro Nacional de Agroecologia estão incluindo o tema da educação como campo de conflito e resistência. Faremos um esforço para que o tema Educação se fortaleça cada vez mais nos CBAs. Qualificar o debate no âmbito da Planapo. São algumas das ações que estão sendo trabalhadas pelo GT para os próximos anos.

(*) Foto: Santos, Michelotti e Sousa, 2010, In Ensino da Agroecologia. Revista Agriculturas. v. 7 – n. 4 * dezembro de 2010.

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