A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) participou na última semana do Seminário Latino-americano Aliança pela Agroecologia, que ocorreu em Brasília entre os dias 3 a 6 de maio. A presidente da ABA, Irene Cardoso, falou sobre o papel da academia nos diálogos de saberes, em uma mesa que contou, também, com a participação da agricultora Roselita Victor, da coordenação do Polo da Borborema, na Paraíba; e do coordenador regional da organização guatemalenca Fundebase, Juan Carlos Camajá.
Professora do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, Irene destacou que ensino, pesquisa e extensão devem estar articulados para contribuir com a transformação da sociedade. Também defendeu que o pesquisador vá ao campo com um olhar atento e uma escuta profunda. “Nossa linha de trabalho coloca ênfase nos intercâmbios, inspirados na metodologia “campesino a campesino” desenvolvida e aprimorada na América Central. Fazemos a mobilização da comunidade, caminhamos pelas propriedades, conversamos com as famílias, compartilhamos seu cotidiano. E os resultados dessas pesquisas são depois sistematizados e devolvidos, mediante oficinas, reuniões, encontros”, esclareceu.
Entre as ações que fazem parte dessas pesquisas, estão mutirões e caravanas. “São peregrinações que percorrem diferentes lugares, observando as ameaças aos territórios e os processos de construção da agroacologia. Assim, conseguimos um olhar coletivo sobre o território, seus problemas e suas experiências positivas”, explicou. As caravanas são um meio poderoso para fazer anúncios e denúncias. Associada a esse princípio, Irene criticou a ideia de que o conhecimento científico seja neutro. “Isso não é verdade. O conhecimento não é neutro. Mas a falta de neutralidade não significa ausência de ética”, enfatizou.
Para Roselita Victor, a construção coletiva do conhecimento está entre os princípios que norteiam a agroecologia. “Nosso conhecimento é formado a partir do olhar dos agricultores, valorizando seu acúmulo de experiência, assim como sua capacidade de fazer a leitura da realidade e de participar ativamente no debate das políticas públicas para o território”. Nessa visão, ressaltou, é fundamental o intercâmbio de conhecimentos. “Os agricultores agroecológicos colocam sua experiência a serviço dos outros. Vemos isso claramente no trabalho dos guardiões das sementes nativas, que chamamos de Sementes da Paixão”.
Segundo Camajá, a promoção da agroecologia passa, entre outras ações, pela valorização da experiência dos agricultores mais velhos. “Estamos resgatando esse conhecimento ancestral fazendo entrevistas com nossos avôs e avós. Perguntamos como se alimentavam antes, como plantavam e colhiam, como processavam a comida. Além disso, nas nossas visitas às escolas, compartilhamos receitas tradicionais, que estavam antes esquecidas”, relatou.
Paulo Petersen, vice-presidente da ABA e coordenador da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, entidade organizadora do seminário, participou do evento. Em entrevista à Rádio Nacional, ele divulgou o Congresso Latino-americano de Agroecologia, que ocorrerá em setembro, na capital federal