“Já existem estudos que mostram como os assentamentos agroextrativistas são referências em sustentabilidade”. A fala de José Ivanildo Brilhante, do Conselho Nacional de Populações Extrativistas, mostra como estas iniciativas respondem à demanda de afirmação de projetos alternativos de desenvolvimento, pauta do terceiro dia do CBA.
Na mesa Agroextrativismo e Agrecologia: Diálogos Necessários, Brilhante foi acompanhado por Maria Evanilda da Silva na representação de comunidades que sobrevivem, produzem e geram renda a partir de uma relação de manejo sustentável de florestas e rios. “São homens e mulheres que têm o direito de estar no ambiente e a capacidade para respeitá-lo”, afirmou Brilhante.
Também participaram do painel, Álvaro Carrara, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, e Jorge Ricardo Gonçalves, da Coordenação de Agroecologia do MAPA, que abriu as atividades afirmando que “Extrativismo não é só extrair, mas existe ali uma relação de sentimento e alma com o ambiente”.
Se, por um lado, tais iniciativas representam um avanço para estas populações, por outro ainda são necessárias políticas públicas diferenciadas e específicas para elas. A avaliação é de José Ivanildo Brilhante: “Nós ainda estamos pegando carona nas políticas voltadas para a agricultura familiar, mas temos uma dinâmica de produção diferente”. Para ele, enquanto esta situação persistir, a produção extrativista continuará invisível e na informalidade.
Enquanto esse reconhecimento público avança devagar, as comunidades seguem organizando-se. Um exemplo é o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), representados no evento por Maria Evanilda da Silva. A extração e beneficiamento de produtos da palmeira do babaçu é a base do sustento de cerca de 400 mil mulheres em quatro estados brasileiros: Pará, Piauí, Maranhão e Tocantins.
O Movimento já existe há quase 25 anos, tendo sido formalizado como associação em 2002 e criando uma cooperativa em 2009. Hoje, o MIQCB agrega 36 grupos produtivos com quase 300 mulheres, que geram e vendem em feiras locais os diversos frutos dos seus babaçuais: óleo, azeite, amêndoas, carvão, peças de artesanato, sabonetes e doces. Muito além dos produtos que podem ser vendidos, Maria Evanilda enfatizou outro recurso natural que depende da preservação destas florestas: a água. “Essa sociedade veio destruindo e só agora em 2015 está debatendo como reflorestar, para que em 2020 ou 2030 a gente ainda tenha água”, provocou a quebradeira tocantinense.
Texto e fotos: Carú Dionísio – Jornalista do Cepagro